terça-feira, 8 de janeiro de 2013

EQUILÍBRIOS DIFÍCEIS 1

Aviso à navegação: não pretendo postar cultamente, ser séria, acrescentar. Este blogue serve tão só um dos meus prazeres: a escrita descomprometida. E é um bocadinho monolítico. Porque me esqueci de dizer na introdução, mas descendo delas, as tais pedras que estão para ali sozinhas por destino e condição, a desafiar a atmosfera. E como não sou bem, bem, uma pedra, o meu monolitismo desfaz-se em palavras. E pronto. Por outro lado, não morro se não escrevo e penso até que seria imortal se a morte dependesse em mim de amores inadiáveis. Mas, infelizmente para o eu que é mim, parece que não. Também é verdade que tanto escrevo sobre um livro que li como sobre uma ervinha que encontrei. Empenhadamente. E, se soubera pôr um slogan no blogue, que ainda não sei, seria "Assomos e Achamentos". Quer isto dizer que aqui me vou assomar às vezes com minhas manias e tiques e contar de meus abençoados achamentos. Certo, podem ser um nada a quem lê. Mas são meus parentes próximos, que me faço família do que me acontece e dá cabo do ritimo.

 A bicicleta é outro dos meus prazeres não menores - mau, mau, aí vão dois - Devo-lhe grandes bons momentos, uns por isto, outros por aquilo. Tenho uma, antiga e em esmalte, que olho diária porque sim e vale infinitos. Mas um prazer maior conta-se do princípio.

Quando fiz treze anos,  o andrógino da imagem a hesitar entre os dois géneros, era uma morena esgalgada e informe que felizmente não dava por tal.  Ora, por razões que aqui não cabem, ganhei nessas férias grandes a bicicleta mais linda do mundo. Mesmo. Verde e branca, com uma proteção das saias em malha de rede que achei o máximo. E uma campainha. A meus olhos, no mundo das coisas, foi beleza superlativa, no grau absoluto sintético. Íssima. Uma bicicleta não cabia na ousadia dos meus sonhos. Primeiro, o meu contentamento acautelou, duvidoso da fartura, e em seguida, é mesmo minha, é mesmo minha, e o coração incrédulo em rotunda exclamativa, não pode ser! a descompassar, aos saltos feito doido, parecia o cão quando o soltávamos. E eu a olhar a bicicleta e a querer segurá-lo, que quase me magoava as costelas na vontade de sair. Cheguei a pensar que teria de andar com ele na mão, o que não dava jeito nenhum, devia estar cheio de sangue e isso. Ou que me limitaria a engoli-lo na esperança que desse com o caminho interior e se deitasse de novo no lado esquerdo de mim. E quando assim divagava, suponho que com cara de atordoada, a mente pôs-me no lugar. Não há como a realidade para nos levar ao sítio. Era uma evidência: EU NÃO SABIA ANDAR DE BICICLETA. E aterrei sem pára-quedas. Foi então que o meu pai, a filha do ti Manel aprendeu a andar em três horas, não há gente mais burra do que aquela, nenhum filho foi capaz de fazer a 4ª classe (para o meu pai, a 4ª classe era a prova dos nove à inteligência humana). Se ela foi capaz de aprender, tu também aprendes.

Fiquei muito mais descansada. Talvez que em hora e meia eu conseguisse. Ou mesmo em três horas, como a Rosa do ti Manel….
(continua)

4 comentários:

  1. Em relação a aprender a andar de bicicleta eu levei bem mais que 3 horas.. ou 3 dias.. ou 3 semanas! Aliás, julgo ter cometido a proeza de cair mesmo ainda com rodinhas! Isto sim, não está ao alcance qualquer um, nem mesmo da Rosa! hehehe.

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    1. Pois, MB, não havia rodinhas no meu tempo :)...e podes ler mais um bocadinho:) Foi uma odisseia.
      Bigada pelo teu comment, viu?
      BFS!!!

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  2. Não sei em quantas meias meias horas nasce um texto assim. Tão pouco percebo de Assomos. Talvez seja mais lesto em Achamentos. Achei aqui um.
    O que é ser um um ser normal? É um ser que pensa ou que o faz?
    Gostei de aterrar aqui. As palavras são a melhor pista para as partidas e para as chegadas, do voo complicado que é a vida.

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    1. Agradeço o teu comment :) ainda bem que no teu assomo me achaste. Mesmo que a minha bicicleta te seja estranha (não o será se acompanhes a história:).

      Podes crer que a escrita me é mais fácil. Apesar de tudo :)
      Ainda não sei o que é ser normal. Estou a caminho desde que nasci e nem sequer tenho a percepção de ter progredido. Todos somos seres que pensam. E seres que fazem. Julgo que a normalidade que procuro se situe noutro plano.

      As palavras têm o dom de sobrevoar porque dão também corpo ao imaginário. E assim sustentam a realidade.
      BFS!

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