Piazza di San Marco, Venecia
Apesar do corropio de turistas a
demandá-la em primeira escolha, conheci-a já a semana em Veneza ia a meio.
Conhecer não é o termo certo, ainda a desconheço. Conhecer uma praça numa
cidade é mais que saber-lhe o nome e ser-lhe apresentada. Ultrapassa a
possibilidade de sentir-lhe as variações ao longo do dia (como nos sucedeu).
Está para além do sortilégio de o primeiro olhar acontecer ao rés da noite, sem
multidão (assim se teceu o nosso prazer). Para conhecê-la, teria de pisar-lhe a
esquadria vezes sem conta e saber nela as quatro estações; sentar-me no
esplendor das suas esplanadas; entrar em algumas das inúmeras lojas que a muram;
encostar em quase todas as colunas das suas arcadas magníficas; amiudar o
hábito ao tempo daquele relógio romano com
signos do zodíaco; pedir alento ao juvenil galope de cavalos estrangeiros e
naturais de Alexandria que ali brilham tão a gosto; meditar na Catedral; fazer visita
ao Palácio dos Doges; jogar a macaca no tabuleiro da praça a afastar pombos,
xô, xô, xô... E desvanecer uma vez e outra, e outra ainda, frente ao Leão de S.
Marcos e à displicência destemida do arcanjo Miguel, um pé distraído a calcar o
dragão enquanto, logo ali, a simetria bailarina
das gondolas ensonadas, azula no fim de tarde. Porém, mesmo sem a saber, me rendi ao primeiro
encontro, tão desprotegida como qualquer mortal.
É
que a beleza do canal invade-nos. Desmede e estarrece sem direcção. Oh, que sempre os poderosos souberam – puderam
- escolher os lugares de morar! Regresso
às gôndolas e seu doce chapinhar. Escuto melhor, não soa apenas a música da água a
alisar a madeira. Sobre ela, perpassa um cristal de piano. E é certo, a
leveza dos barcos ondula ao som de Beethoven; juro, ouvi a Melodia para Elisa a
embalar as garotas.
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