Os
anos, como as horas, são uma sequência, vem um dia atrás do outro. Por isso, desejar um bom 2017 não é coisa que tenha jeito ou faça diferença. Que não
faz. Os infelizes – começo por eles para ficar já descansada – vão continuar no
estado de vítima. Podem atordoar, há substância no mundo para isso, mas fazem o
movimento de volta, regressam à sua morada triste. Os felizes, tanta vez
inconscientes de si e do mundo, também não passam a sofredores assim de repente
– e ainda bem, que o mundo, por muito que custe a certa gente, precisa de seres sorridentes a quem a sorte bafeja. Ou que são felizes sem pensar nisso, ramo de flores alegrando a salsada da vida. E depois, entre os extremos
pulsa um excesso de cambiantes, uma coisa assim de leque onde não há cão nem
gato que não caiba, a revezarem-se contínuos. Está lá tudo. A lutar não se sabe para quê ou porquê, mas a
maioria, arrisco, para ser feliz. Ou menos infeliz. Ou só qualquer coisa a que
nem vale a pena dar nome, sobretudo porque o não tem e fica assim, inominado e
misterioso, que os homens têm um fraquinho pelo mistério. Se insistem muito,
pronto, talvez nos advenha dessa tendência inata para a sobrevivência, do apego
à vida tão bonita e que vale a pena e é só esta. É verdade que, para quem
acredita a pés juntos na outra, fazem-se ligeiras alterações; porque esta
continua de facto a ser única e efémera; e a falibilidade torna-a mais sugestiva.
E
por tudo isto nada me dizem aqueles movimentados reveillons, apinhados de gente
e rituais de boa disposição fabricada e rolhada em garrafas, as despedidas de
ano velho, as entradas de ano novo com passas de uva que são uma bodega do pior
que se pode comer em qualquer altura do ano, os brindes parvos com desejos da
boca para fora e sorrisos meio tolos que tomam tudo e todos por igual, num
friendship postiço. Estou mesmo em crer que passaria o ano a dormir como faço
nos dias restantes, se por acaso as contingências da sorte não me tivessem
vedado momentaneamente tal prazer.
Portanto,
sou bem capaz de me deixar ficar ao quente, estúpida e bovina a olhar a tv que
faz o seu papel para gente como eu que não gosta, mas vê na mesma (tem que se
fazer alguma coisa).
Amanhã
é dia 1 de Janeiro de 2017. E Ano Novo Vida
Nova é o quê senão a conversa do costume. Estou
fartinha de anos novos e velhos.
A vida apenas vai andando descompadecida e são os nossos passos a inventar
a tão necessária esperança.