E visitámos os rios falsamente parados e as
praias fluviais onde apeteciam demoras de piquenique, eu a inventar cestas românticas
debaixo de árvores frescas e cadeiras de lona que quadram mal com o bucolismo
da cena, mas são mais confortáveis que as pedras e suficientemente leves para
carregarmos com elas. E, no ardor do momento, até me julguei capaz de mergulhar
naquelas águas frias num pino de verão, coisa que agora, em meu juízo, descreio
perfeitamente. E vi cobras pequenas e lagartos de vária índole, olhar
desconfiado e fuga pronta, que não me deixaram assim tão descansada como isso,
que temo tudo que se arraste.
E agora que já estou pacata (como se não fosse)
e em casa, não me sai da cabeça o aviso camarário que ouvi ao micro em Ponte
de Lima e que pedia aos turistas que não dessem esmola a ninguém que a solicitasse.
Como sou estúpida! Não é que quando ouvi aquilo
até concordei?! Não era, de imediato, dar-me alguém uma chapada bem
assente? Agora que penso nisso – não deixo de ouvir aquela voz nefasta -, parece-me tão mas tão mal ter ouvido sem fazer
chinfrim…Mas então, meus senhores CDS, a forma de acabar com a mendicidade é proibi-la
de aparecer nas zonas mais in? Hummm….terão
copiado a ideia da Suécia? Com tanto exemplo bom vão logo copiar um que não presta.
A questão é que, a uns e outros, não lhes faz mossa que haja pobres, têm é que
não os ver. Só faltava mesmo isto: pedir à miséria que seja invisível. E
como é que eu não me insurgi logo? Estou perdendo qualidades, caramba.
Características. E não posso que já sou bem incaracterística. Cambada de gente
que não presta! Como se existir seja aparecer e só exista o que aparece. Sou
contra as aparências de democracia. Sou contra esta mascarada toda de cidade
limpa e bonita, que decerto proíbe os pedintes.
Achei Ponte de Lima um lugar lindo. Mas aquela
voz persegue a visão que me ficou. E desfigura.
Toda a beleza tem um preço?! Não é bem assim. Belezas de só por fora não interessam nem ao Menino Jesus.
PS: Meu Menino Jesus, desculpa.
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