Aviso à navegação: não pretendo postar cultamente, ser séria,
acrescentar. Este blogue serve tão só um dos meus prazeres: a escrita
descomprometida. E é um bocadinho monolítico. Porque me esqueci de dizer
na introdução, mas descendo delas, as tais pedras que estão para ali
sozinhas por destino e condição, a desafiar a atmosfera. E como não sou
bem, bem, uma pedra, o meu monolitismo desfaz-se em palavras. E pronto.
Por outro lado, não morro se não escrevo e penso até que seria imortal
se a morte dependesse em mim de amores inadiáveis. Mas, infelizmente
para o eu que é mim, parece que não. Também é verdade que tanto escrevo
sobre um livro que li como sobre uma ervinha que encontrei.
Empenhadamente. E, se soubera pôr um slogan no blogue, que ainda não
sei, seria "Assomos e Achamentos". Quer isto dizer que aqui me vou
assomar às vezes com minhas manias e tiques e contar de meus abençoados
achamentos. Certo, podem ser um nada a quem lê. Mas são meus parentes
próximos, que me faço família do que me acontece e dá cabo do ritimo.
A
bicicleta é outro dos meus prazeres não menores - mau, mau, aí vão dois
- Devo-lhe grandes bons momentos, uns por isto, outros por aquilo.
Tenho uma, antiga e em esmalte, que olho diária porque sim e vale
infinitos. Mas um prazer maior conta-se do princípio.
Quando fiz
treze anos, o andrógino da imagem a hesitar entre os dois géneros, era uma morena esgalgada e informe que felizmente não
dava por tal. Ora,
por razões que aqui não cabem, ganhei nessas férias grandes a bicicleta
mais linda do mundo. Mesmo. Verde e branca, com uma proteção das saias
em malha de rede que achei o máximo. E uma campainha. A meus olhos, no
mundo das coisas, foi beleza superlativa, no grau absoluto sintético.
Íssima. Uma bicicleta não cabia na ousadia dos meus sonhos. Primeiro, o
meu contentamento acautelou, duvidoso da fartura, e em seguida, é mesmo
minha, é mesmo minha, e o coração incrédulo em rotunda exclamativa, não
pode ser! a descompassar, aos saltos feito doido, parecia o cão quando o
soltávamos. E eu a olhar a bicicleta e a querer segurá-lo, que quase me
magoava as costelas na vontade de sair. Cheguei a pensar que teria de
andar com ele na mão, o que não dava jeito nenhum, devia estar cheio de
sangue e isso. Ou que me limitaria a engoli-lo na esperança que desse
com o caminho interior e se deitasse de novo no lado esquerdo de mim. E
quando assim divagava, suponho que com cara de atordoada, a mente pôs-me
no lugar. Não há como a realidade para nos levar ao sítio. Era uma
evidência: EU NÃO SABIA ANDAR DE BICICLETA. E aterrei sem pára-quedas.
Foi então que o meu pai, a filha do ti Manel aprendeu a andar em três
horas, não há gente mais burra do que aquela, nenhum filho foi capaz de
fazer a 4ª classe (para o meu pai, a 4ª classe era a prova dos nove à
inteligência humana). Se ela foi capaz de aprender, tu também aprendes.
Fiquei muito mais descansada. Talvez que em hora e meia eu conseguisse. Ou mesmo em três horas, como a Rosa do ti Manel….
(continua)
Em relação a aprender a andar de bicicleta eu levei bem mais que 3 horas.. ou 3 dias.. ou 3 semanas! Aliás, julgo ter cometido a proeza de cair mesmo ainda com rodinhas! Isto sim, não está ao alcance qualquer um, nem mesmo da Rosa! hehehe.
ResponderEliminarPois, MB, não havia rodinhas no meu tempo :)...e podes ler mais um bocadinho:) Foi uma odisseia.
EliminarBigada pelo teu comment, viu?
BFS!!!
Não sei em quantas meias meias horas nasce um texto assim. Tão pouco percebo de Assomos. Talvez seja mais lesto em Achamentos. Achei aqui um.
ResponderEliminarO que é ser um um ser normal? É um ser que pensa ou que o faz?
Gostei de aterrar aqui. As palavras são a melhor pista para as partidas e para as chegadas, do voo complicado que é a vida.
Agradeço o teu comment :) ainda bem que no teu assomo me achaste. Mesmo que a minha bicicleta te seja estranha (não o será se acompanhes a história:).
EliminarPodes crer que a escrita me é mais fácil. Apesar de tudo :)
Ainda não sei o que é ser normal. Estou a caminho desde que nasci e nem sequer tenho a percepção de ter progredido. Todos somos seres que pensam. E seres que fazem. Julgo que a normalidade que procuro se situe noutro plano.
As palavras têm o dom de sobrevoar porque dão também corpo ao imaginário. E assim sustentam a realidade.
BFS!