E
de repente chegaste. Disfarçada de presente. E foi Natal outra vez. Os dias
recuaram ao presépio, os pastores voltaram sobre os passos e quedaram
emudecidos à manjedoira salvadora, os reis magos ainda em casa à espera do
sinal celeste. A não importância da estrela a empalidecer no alto da gruta.
Era
a vez absorta do teu poder largo, passeante de veraneio nos caminhos de terra
do meu presépio feliz. Doce e inesperada
surpresa de Natal atrasado, mas tão a tempo. E abri com mãos primeiras a tua
carta de papel florentino buscado em Veneza loja a loja. Onde, escreves tu, a
cercadura é bastante e a mão peca na adição de sinais. Mas que encheste de amizade pura. Que agradeço. E
assim a sei de tanto ano em que nos abraçámos sem abraço haver, misturando
agudos de sonho em realidades obtusas, receitas, conselhos caseiros, opiniões
de tudo e nada em que concordamos. És única a dar-me um nome pequeno que enches
de naturais matizes como só tu sabes.
Então,
fiz da tua escrita marco de leitura. E assim vagueias os meus livros página a
página, de história em história. Escondida em envelope aberto e endereçado ao que em mim és tu. Às vezes,
nas noites em que as estrelas mais sérias, repito-te. Revejo a tremura leve da
caneta hesitando em pernas de letras, a prosa corredia, científica e terna.
E
o resto, se é isto possível, acrescenta o que és: minha amiga dilecta.
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