domingo, 22 de outubro de 2017

A Busca de Sentido

Desorienta-nos o sem sentido da vida. Que ela, por si mesma, garanto, não o possui. Somos nós, seres pensantes – nem sempre bem pensantes –, quem lho outorga. Exigimo-nos nela, é o que é. Bem sei que é lugar comum, mas tenho de sublinhar a humana vaidade, o egocentrismo, a necessidade da muleta racional, o indicador de caminho que subjaz a este pressuposto de sentido que requeremos e apomos a todo o existente.
No entanto, se escavamos no buraco a céu aberto da nossa insegurança vital, temos de reconhecer que tal exigência de sentido nos convém. Não é apenas um capricho de criança mimada, uma ascese religiosa e fanática - até por nem todo o sentido encontrado ser de índole religiosa  -  a procurar cómodos na facilidade dos passos. Não é apenas, mas também pode ser. Que a vida segue sem nós. Imperturbável. Mas, facto fundamental, nós não seguimos sem ela. Se nos falta, terminamos. Por isso, tentamos acomodá-la ao pensamento, à racionalidade que nos orienta e provou ser, até hoje, pelo menos no campo científico, o conjunto de medidas mais eficazes contra doenças e acasos naturais e humanos. Supostamente, a razão, porque compreende,  preserva-nos de moléstias maiores. Agita-se contra a gama de malefícios que, de forma irracional e incompreensível, causamos uns aos outros. Portanto, nesta linha de procura de sentido global, a vida, nosso bem mais precioso, não se exclui.
Quando, já tarde, me iniciaram nas linhas da filosofia, disseram-me que ela nos interpela pessoalmente e faz colocar perguntas gerais, como: por que razão existimos, o que cabe a cada homem fazer no mundo, o que nos espera depois do fim (o que é contrasenso, depois do fim não devia haver nada). Mas, e apesar de estar já na casa dos vinte, nenhuma das questões me preocupava. Devo ser uma avoada de marca maior porque continuo a desconhecer as respostas e não me preocupo grandemente com elas. Não as procurei. Mas agora, neste preciso momento, vou tentar.

Vejamos. Não posso responder pela humanidade. Logo, tenho, talvez egocentricamente, de pensar no meu caso.  abordemos a primeira questão, “por que existimos”. Cientificamente sabe-se que viemos de uma espécie de símios que se desenvolveu até mudar de categoria e se chamar ser humano. Não se sabe se foi dose de acaso, se tem sopro divino, mas demos no que demos. Também ainda não descobri porque existi eu e não outra pessoa, ou porque razão, sendo eu, não possuo outras singularidades, mas só estas; e pouco me interessa se a mistura genética foi casual ou envolve a divindade. Interessa-me que foi. E ainda é. Ao invés, sei que existo e que posso pensar (como Savater, subverto a evidência cartesiana), facto que agradeço em todas as horas e minutos da vida; sendo pessoa, ser pensante, reconheço: detestava encarnar em qualquer outro animal. Peço desculpa a Platão, pensador que admite a escolha entre ser homem ou bicho, mas para isso tinham vocês de ler, pelo menos, o livro décimo da República, obra que não prejudica ninguém apesar de ser antiquíssima. Portanto,  existir é a minha glória; e existir pensando, o maior bem. Todas as causas que estejam por detrás desta evidência me desinteressam. Sobejam. Não lhes faço caso.

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