Li
há tempos – no jornal Expresso do dia 8 de Dezembro de 2017 – que, em mais uma
avaliação internacional em educação, os alunos portugueses do 4º ano de
escolaridade desceram na capacidade de compreensão de leitura. Ou seja, lêem mas não sabem bem o que lêem
porque não o compreendem. Mas, refere o
mesmo estudo, as nossas crianças do 4º ano são as que mais gostam de ler. E em
seguida o artigo do expresso expunha considerações e críticas de um a outro
governo. Deste ao antigo porque o estudo data de 2016 e, sendo assim, os quatro
anos de escolaridade a que se reporta dizem respeito à reforma do então
ministro, Nuno Crato, que propunha -
ainda segundo o artigo – um sem número de conteúdos em lugar de definir
competências e que privilegiava a leitura escorreita à compreensão. Do antigo governo
e dos autores da dita reforma que se defendiam aduzindo que a obrigação de
leitura corrente no quarto ano é fundamental e não pode nenhum programa
prescindir dela, a bem do ensino democrático. E bla bla bla dos dois lados da
barricada.
Ora bem. A primeira coisa que me soe
dizer sobre isto é que, ao contrário das expectativas elevadas dos inquiridos
no artigo, que partem do princípio que as nossas crianças foram sinceras e
gostam muito de ler, e portanto basta pegar-lhes no gosto e andar para a
frente, eu desconfio amplamente da resposta das crianças do quarto ano que
afirmaram gostar muito de ler (em cinquenta países inquiridos, estamos em
primeiro lugar, gente. As nossas crianças são, a nível internacional, - 50
países! - as que mais gostam de ler).
Eu, se fosse esses senhores tão sábios e cheios de estudos, não faria muito
caso de tais gostos infantis. Toda a gente sabe que as crianças – e até os
adultos – mentem para agradar; basta-lhes pensar que fica bem dizer que gostam
muito de ler e logo todos fazem ali a cruzinha. Ó gente, é que dizer que não
gostam de ler é defeito, uma espécie de nódoa, fica mal, rara é a criança que o
afirma num inquérito; isso é coisa dita lá em casa, se a obrigam a estudar a
lição. Não sei mesmo por que razão os tais espíritos iluminados não
desconfiaram de nada. É que fui reparar melhor e os países que estão em segundo
e terceiro lugares – os que nos acompanham a ler mais - são o Cazaquistão e o
Irão (calculem vocês). Portugal ocupa o trigésimo lugar na compreensão do que
foi lido, não sei por onde andam o Cazaquistão e o Irão, mas dos dez primeiros
não constam. Para mim é limpo, os garotos mentiram. Ou, como agora se diz,
faltaram à verdade e assinalaram o que pensavam que lhes beneficiava a imagem. E
os do Irão e Cazaquistão? Pois, não sei, mas devem ter tido um pensamento
semelhante que as características do pensamento infantil não divergem assim
tanto de cultura para cultura..
Mas há outra incongruência. Porque,
senhores pedagogos do “se o gosto existe, vamos trabalhar para que se
transforme em resultados melhores” (Teresa Calçada do PNL). Então as nossas crianças não compreendem bem
o que lêem, mas ainda assim gostam muito de ler... gostarão de papaguear?! Não
conheço uma única pessoa que sinta prazer
na leitura de algo que não entende completamente, a quem, quiçá, escapa
o sentido do que leu. Mais me parece que seja isso razão para desgostar de ler.
O que a experiência nos ensina é que quem gosta de ler compreende muito melhor
qualquer assunto escrito e sabe, mesmo oralmente e por comparação com quem lê
pouco, esclarecer melhor as suas opiniões. Portanto, mais uma razão para duvidar do gosto
deles. Mas quem será a alma que inventa inquéritos sobre gostos infantis desta
natureza?! E as que os valorizam?!
Qual
será o remédio para este mal de ler sem compreender?! A educação, no seu
aspecto informal e formal não tem receita única. Mas sempre vou dizendo que
escolher um livro para ser lido em aula, resulta. Instituir uma pausa para
leitura que se continua dia a dia, resulta. Os alunos gostam de ouvir a
professora ler uma história, esperam mesmo por esse bocadinho de tempo. Mas uma
história longa, que os agarre e não seja da carochinha. Que eles já têm muita
coisa a distraí-los, não precisam acrescentos.
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