Dizer adeus é triste desolação. Por isso, as pessoas de quem me despeço
não me despeço; arrasto-as na viagem da vida, puxo-as de cabeça, se for
preciso. Que, na indiferença da memória, se indistanciam mortos e vivos. Mas alisam-me
os reencontros. Buracos e saliências obliterados, devenho terra rasa. Súbito solo
arável.
Assim te espero na vaga das estações. Em prece feita de tempo, atenta aos
teus sinais percutidos nos búzios. Neles vive uma perdida lembrança do teu
rumor. E depois da espera onde a saudade se sentou, percorro uma estrada
comprida de regresso, irrompe-me a alegria do teu abraço e extasio de ti, ó Mar.
Avanças a beijar-me os pés uma vez e outra na fresca certeza de sermos os
dois. Respiro-te. E logo a pituitária se liberta em euforia profunda. Eu sei as
nuances do teu cheiro nas horas completas que o dia tem e inebrio em cada
aspiração, os sentidos a escancarar janelas. E sou pés, olhos, ouvidos,
nariz e pele. A absorver-te. Emudeço até que me abraças de brisa e me empurras
de manso para a areia. E ali fico, em escuta. De ti.
Então, as ondas despem-me dos dias. E logo sobre essa que nasceu voam as
horas, desatendidas do doce enleio. O tempo! Que sempre nos esfaqueia. Sigo o
relógio na orla das ondas e afaga-me os pés o refrigério dos teus dedos de
espuma. Que tanto me prendes sem me prender. Volto para ti uma e outra vez e
logo, num pedido terno, me rodeia o teu jeito molhado. E um pensamento de ficar
me avassala. Pousar tudo. Ficar. E vou deixando recados concêntricos,
esperanças molhadas em cada passo que nos afasta.
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