“(…)
entrarmos no mar às seis horas da manhã. Por quê? Porque é a hora da grande
solidão do mar. Como explicar que o mar é o nosso berço materno mas que seu
cheiro seja todo masculino; no entanto berço materno? Talvez se trate da fusão
perfeita do masculino com o feminino. Às seis da manhã as espumas são mais
brancas. (…) Depois voltarei ao mar, sempre volto.”
Clarice Lispector
Clarice.
Que só na morte atravessa livremente continentes e mares, toda fora da saudade
que a perseguia quando assim. Metamorfoseada de livro, a desfraldar seu encanto
sinuoso páginas afora, um longe de dedos a acenar assentimentos, sim ela é um
mistério. D. Clarice. Arde em zonas penumbrosas que lhe dobram o incógnito, lhe
acertam o côncavo das maçãs do rosto, lhe sublinham a curva da boca e descem devagar
à figura. Que nenhum destes encantos chega perto de se pensar a si e
ao mundo de tão próprio jeito. E mulher mais próxima de Pessoa no amor à língua
portuguesa talvez des-exista. Des-encontre.
Eu lhe
respeito, D. Clarice.
Sem comentários:
Enviar um comentário