(continuação)
O
melhor actor secundário em 2013 é Jared Leto pelo desempenho de Rayon, “a drug addicted Trans woman with AIDS” (wikipedia), que estabelece uma sociedade com
Woodproof na distribuição de medicamentos alternativos; a Rayon cabe grangear a
clientela. A personagem ganha-nos de imediato. Prende-nos a força desaparafusada
dos olhos azuis e o tom leitoso da pele, ingredientes de uma quase inocência
cósmica que soçobra e ajoelha sem luta perante a droga. Que faz cama à provocação
de exibir a mulher que em si mora. Ao longo do filme, o personagem não renasce,
não lhe emerge uma réstea de esperança, antes persevera na ausência de salvação
pessoal. Impressionante caminho.
Ao contrário de Woodproof que esbraceja e
sonha até ao fim, sempre a arrastar outros no sonho, que ganha seis anos aos
trinta dias prometidos pela medicina, ele não empolga. Limita-se a passear o
seu olhar azul pelo filme como anjo caído progressivamente em desgraça, sem uma
queixa. Mas também sem um plano, uma perspectiva, um sinal de desejo. Também
ele a emagrecer – emagreceu 30 quilos –
e como que preso a um destino inexorável que o vai sugando. O que Woodproof
rejeita, Rayon entrega. E a sua entrega é tão patética que nos enovela o âmago.
Contudo, nunca abandona Woodproof e palpita no seu único gesto desejante a extensão
da mágoa e do amor, o peso esforçado de vestir “à homem” na visita ao pai, a fim
de obter verba que ajude o amigo.
Tudo
nele vai cedendo, desistindo, até não ter coragem para injectar-se e ser o amigo a
fazê-lo. Nesse balanço que os filmes dão a quem os assiste, palpamos-lhe a
desistência e a nostalgia secretas, quando se abraçam quase no final, depois da
oferta do dinheiro que é balão de oxigénio no projecto.
Depois
encontra um companheiro tão patético como ele, aturdido, quase vegetal. Porém,
o medo da morte permanece inexplicável, imune à desistência de viver. E, se nós
vislumbramos em Rayon os sinais de um afecto maior, Woodproof não os detecta. Chegando
de uma viagem, a morte do amigo choca-o profundamente – quanto pomos de propositada
ilusão naqueles que gostamos - e chora o
companheiro de anos, aquele que, dentro dos parâmetros em que viveu, esteve a
seu lado. Os dois respeitando o que o outro era na sua liberdade.
E,
contudo. Todos os que assistem o filme, sabem desde o início, pelos olhos de
Rayon, que a tragédia o habitava.
Deste
actor multifacetado que fotografa, escreve e canta e tem uma banda – ou teve –;
que realiza; que já tem um activo de papéis vários e aclamados; que tem fama de
se deixar submergir pelo personagem a que dá vida e desaparecer como si mesmo
enquanto o personagem dura; que é obsessivo com a interpretação; que prima por
um visual empático e angelical: auguro uma vida longa. Que, a haver, nos brindará
com bons momentos.
Tchim- tchim!
Nota: Mas. Porque. A verdade é que discordo destas atribuições. O meu melhor actor principal é Leonardo di Caprio; e o secundário, sem sombra de dúvida, Fassebender. Porque são excepcionais, com desempenho extraordinário. O que emana deles é de outro quilate.
Nota: Mas. Porque. A verdade é que discordo destas atribuições. O meu melhor actor principal é Leonardo di Caprio; e o secundário, sem sombra de dúvida, Fassebender. Porque são excepcionais, com desempenho extraordinário. O que emana deles é de outro quilate.
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