Não
gosto de postar-me em mágoas e interrogações. Prefiro contar histórias,
inventar personagens e pô-las a viver situações que conheço da experiência e
invento parcialmente, a fazer posts.
Se leio um post de outra pessoa quase
sempre me maravilho com o que pensa e o quanto é capaz de transformar em
palavras o seu quotidiano, transferir para texto elucubrações que não me
ocorrem, preocupações com o mundo que tento ignorar e ali me surgem dissecadas,
razoáveis, envoltas em razões quase científicas de tão válidas, escorreitamente
deitadas à net. Sou uma nulidade a postar. Falta-me assunto. Uniformidade.
Constância temporal. E outros enfins.
Acontece
que comprei a Visão – leio-a em duas qualidades: leitura rápida, no primeiro
dia; e na íntegra, de 5ª a 5ª, ao pequeno-almoço. Riam. A actualidade nunca me
interessou. Continua a não me interessar. Não sou pela notícia e vivo
desinformada. Ignoro olimpicamente os jornais, salvo se trazem entrevista que
me interesse. Quanto a revistas, são-me acessório de praia. Numa manhã, li o
artigo “Tecno-Utopias O plano louco dos novos senhores do mundo”. E constrangi.
Ora
bem. Sei que não sou livre, ainda que o pretenda. Que estamos todos dentro de
uma malha social e política a obrigar-nos ao caminho. Que a história nos
condiciona – tanto a individual quanto a de H maiúsculo – e pesa e age sobre
esse ser genético e diverso que cada um é. Como se toda esta carga não
bastasse, há um movimento libertarianista que projecta criar micro nações
flutuantes que fogem aos impostos e a todo o tipo de barreira (incluindo a da
tão corroída ética), constituídas por – Hélas! – grandes cérebros informáticos,
os actuais senhores do digital, que se arrogam direitos e proveito para
destruir governos, originar crises mundiais e and
so on.
Pronto.
Agora poderia enveredar por um texto moralista e falar da ausência de valores,
de onde pára a dimensão de humanidade…e não é que não me interesse. Acontece
ser pouco dada a romantismos sem consequência. O que me assusta é o irrestrito
de liberdade que esses cérebrozinhos potentes querem para si. Os deuses
terrenos são um escárnio da divindade e um mal para os outros homens.
Fora do lugar, são tão inestéticos como uma mão no fim do tornozelo. E são
perigosos. Porque a sua humana vontade – razão tinha Kant – não é
necessariamente boa. Logo, tem que ser controlada. Temos na história o exemplo
das oligarquias tirânicas. E não detinham o poder destes tecno oligarcas.
Detenho-me
a pensar que efectivamente a tecnologia nos invadiu o quotidiano. Sabemos que
as cartas mais dizem de nós que os mails, mas usamos mais os últimos; temos
presente que a conversa presencial ou até telefónica é mais próxima que os
chats de conversa, os comentários em blogues ou em qualquer rede digital, mas
gastamos muito mais tempo nas redes sociais. E cometemos erros crassos. Por
ser meio onde raramente se diz o que se é e mais se quer parecer o que se
deseja. Apesar de reconhecer alguma razão na afirmação, “nas redes sociais a
gratificação é imediata”, intrigo: que espécie de gratificação se pode procurar
com likes, estrelas, ou visitantes que nem lêem o que escrevemos e se limitam a
deixar beijinhos – que nunca dão – e a dizer que gostaram muito do que nem se
dão ao trabalho de conhecer. Por que razão adversa hei-de gostar de ter
centenas de visitantes cusqueiros?! (certo, há outros géneros e aprende-se qb
na net, desde que a isso nos proponhamos e tudo dependo do uso, bla, bla, bla…)
Vejamos
outro caso: na infância, todos aprendemos a pedir desculpa. Em primeiro
lugar sentíamos arrependimento, e, para lhe dar fim – sabíamos que tínhamos
sido injustos e a injustiça não é de convivência fácil -, havia um
movimento para a outra pessoa, passo algo difícil, mas tão necessário à outra
pessoa como a nós; sempre mais a nós. Era olhos nos olhos, como nos ensinaram e
também ensinámos, “tens que olhar para os olhos dele e pedir desculpa”. Porque
é tão fácil pedir desculpa e não se sentir arrependido como desculpar e
continuar ofendido e rancoroso. Então, era o único caminho para que pudéssemos
ambos – eu e o outro/a - continuar. Os erros, os enganos e os atrofios
hodiernos perdoam-se virtualmente, desculpam-se sem na verdade serem
desculpado. Quiçá nem se precisa que o outro desculpe, bastará haver o pedido
de desculpa usando qualquer coisa que nem me pertence e de que me
aproprio para o efeito.
Faz-nos
falta voltar aos bancos da escola….
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