Leio
Tolentino Mendonça há anos. Tenho alguns
dos seus livros. Os primeiros chegaram-me
via amigos, um agrado carinhoso de quem me quer bem. Depois, por gosto e sabor, comprei mais um ou
dois. Já li vários poemas seus, puro bom gosto de quem os mostrou na net.
Em consonância, sempre que posso, leio as crónicas que escreve para jornais e revistas.
É uma escrita sempre empenhada na vocação. Acredito de pés juntos que tem
vocação para se dar aos outros, que o facto de ser padre pouco me importa,
embora reconheça: é talvez a melhor maneira de ele se (e a) cumprir.
Toda a gente sabe que nos
media as crónicas são encimadas pelo rosto do cronista. Acontece que sou um
bocado desligada da imagem, confundo os meus amigos com outras pessoas, levo o
tempo a reconhecer pessoas na tv com quem é impossível ter tido algum contacto.
E outros desconchavos. Portanto, o Tolentino, como a maior parte da gente que
leio, não precisa ter rosto ou figura. É o Tolentino da escrita. Logo, passo
pela foto como cão por vinha vindimada e atarracho nas palavras. Facto que não
belisca o meu apego. Porém, tenho funda
crença que a minha preferência literária e humana naquilo que ele mostra na
escrita, lhe são benefício. A forma não sei mas, existindo uma sintonia
desinteressada com alguém, creio eu que o alvo do bem querer robustece.
E
como me alegrou ler (na Visão) a conversa entre ele e Lobo Antunes, dois dos
meus escritores de eleição. Não a vi. Li-a. Pode que esteja na net (estará),
mas dispenso a imagem. No caso daqueles dois, a palavra sacia o desejo. E digo
até mais, a imagem é fonte de distracção e talvez que, inadvertidamente, deixemos
cair alguma preciosidade. Ora, no caso desta reunião feliz, nada se pode perder.
Tão bonito terem entrado os dois de mão dada – mas isto, desculpem, é Lobo
Antunes chapadíssimo. Tenho dito.
Pois
este ano frequentei – com mais umas duzentas e tal pessoas – uma espécie de
curso livre na Capela do Rato, onde Tolentino é pároco. E lá estava o Padre
Tolentino na primeira sessão a dar o pontapé de saída ao lado de uma professora
que conheço e que onde mete o bedelho sai obra apurada. Confesso que nesse dia não
lhe liguei grandemente e nem me lembro do que disse. Foi dos melhores cursos
que frequentei. Em todas as sessões, as paroquianas se referiam ao Tolentino
num corre corre de novidades que me lembrava os ingleses e a sua relação
próxima à família real. Que estava em Roma a fazer o retiro pascal ao papa
Francisco e mais àqueles bispos todos e doutores da religião. E que na net
assim. E que na net assado. E passavam umas às outras o endereço digital onde,
suponho, ele colocava a via sacra do retiro (não seria a via sacra, mas talvez
um resumo da orientação espiritual que punha em prática). Não me interessou. E depois
havia aquela gente que babava com as suas homilias. Que as suas missas são
únicas e as homilias um espantoso espanto. Confesso que desejava ardentemente
que o Tolentino voltasse a ver se sossegavam o espírito. Aquietaram.
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