Se me perguntasse alguém
onde gostaria de viver, respondia, na praia. Talvez na casa branca da falésia
de que fala o conto de Sophya. Mas a verdade é que a praia me esgota. Vou umas
horas e chego arrasada. Derreia-me.
Esfalfa-me. Nem a desejar sou realista.
Por volta dos vinte, mal chegava
e já as minhas glândulas sudoríparas pareciam uma torneira mal fechada. Se
estava de bruços, o suor fazia rega gota a gota na toalha, facto que me afligia
sobremaneira por me parecer que não acontecia aos outros. É como se a praia esteja a cobrar-me o lugar.
Amor exigente, este. Consome-me, suga-me parte da vitalidade. Contudo, não acredito
que alguém possa gostar mais do cheiro da maresia; apesar das dores de cabeça
de às vezes. E a água do mar é-me terapia, lava-me males internos, dá-me até a
ilusão de os dissolver. Portanto, não se imagine que algum banho de mar me é
normal. Cada um é baptismo eficaz de onde saio de cabeça leve, um arcanjo.
Vou muitas vezes à praia acompanhada.
Mas é indubitável que prefiro os nossos tête-à-tête: eu e ela; nesses dias em
que não me visita a saudade de conversa e estamos uma para a outra. E mais a
aprecio em pormenores, do céu azul aos peixes que esgueiram das nossas pernas em
corpo de radiografia. Temo-nos uma atenção de amor, de tomar conta. E ali existo separada. Completa.
Mas Chego a casa e sou um
infindo monte de cansaço.
Sem comentários:
Enviar um comentário