Cai
sobre nós a torrina e os telhados enxameiam em ondas de calor. Lá fora, cães
espojados ofegam, língua de fora; nos tanques de rega há águas doentes e amolentadas
que não refrescam e chamam apetites de praia, frescuras de montanha, árvores
ramosas e nós cá em baixo num friozinho agradável sob o céu de folhas. Ou inebriamos no cheiro da maresia, uma avidez de pés ao rés das ondas. E eu que não
estou onde queria (raro estou). Os planos, se implicam vontades além da nossa, rareiam
na execução. A força do indivíduo leva
de vencida as sintonias de grupo. E eu que sim. Que pode ser. Pode sempre ser.
Tudo pode ser.
Por
vezes, derrota-me este desenlace. Contudo,
não é inesperado, as pessoas são muito as mesmas. Cada vez mais si mesmas. Bem
sei que sintonizar me cai sobre o corpo, o consome e exaure de tanto ser eu
para tanta gente. E talvez nem valha a pena. Que nunca sabemos o que somos nos
outros, o que de nós lhes fica, a
lembrança que permanece. De cada um resta um laço. Ou um nó. Ou apenas uma aselha que deslaça ao menor
encontrão. Sinais. Para muita gente não existimos e nem ela nos existe; para
outros, somos necessidade maquinal e sem rosto. Só o afecto aproxima alguns do
nosso eu exterior na legítima pretensão de sermos, uns nos outros, internos; de
percorrermos neles, como eles em nós, alguns corredores transitáveis. Poucos. Que
mesmo nessas ruelas periféricas eles se perdem, nós nos perdemos. Estacam,
voltam atrás, desorientam, andam em círculo. Então, escancaramos a porta e eles
enxergam luz de saída. E vão à sua vida. Talvez não procurem mais. Talvez
encontrem sem procurar. Talvez haja um mapa para os caminhos da alma e o próximo
percurso lhes seja fácil porque o nosso lhes foi difícil. Tudo que é, não é em
vão.
Mas
há os que resistem. Permanecem íntegros na sua força de ser, fundeados no nosso coração. São medida de sentido.
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