quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Cartas para Olívia


Olívia


Esta semana são as festas de Natal. Provavelmente também tens as tuas. Na catequese. A representar presépios. Escrevo-te sobre isto porque hoje assisti a uma. Tão linda! Que tem o dom magnífico de ser a única. Tal como o meu jantar de Natal será um e grandemente feito por mim.
Pois, fui ver o natal de um Jardim de Infância. Como eu gostei de ver aqueles miúdos, alguns tão pequeninos, um deles, literalmente de palmo e meio. E tão ou mais bonitos que eles, os pais e os avós. Na minha frente, uma avó babada, a acenar à neta sem descanso, aflita de que a garota a não visse – e não a viu porque, como bem sabes, do palco iluminado para o meio da plateia escura, nada se distingue. Porém, quando chegou o momento da neta cantar a “Estrelinha cintilante” – uma cantora perfeita - , os garotos cheios de brilhos por detrás a fazer coro, a avó levantou-se apressada e foi sentar-se - não sei como, os lugares até me pareciam todos ocupados - na primeira fila. A fazer com a neta todos os gestos. Do outro lado, a educadora, mais moderada, ia lembrando cada parte. Mas, cá de trás, era impossível desgrudar das costas entusiastas e dançarinas da avó, braços no ar a lançar deixas que perturbavam a visão de quem estava logo por detrás. Nem sei do que mais gostei  naquela canção. Temo que da avó.
Se tu visses…O Jardim está a desenvolver um projecto para conhecimento da história local. E lá veio uma canção com o rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia. A rainha, fantástica no seu orgulho de um colar de quatro voltas ao pescoço e coroa na cabeça, junto ao pretenso iate com o seu nome. E D. Carlos pintando o seu quadro, uns extensos bigodes que teimavam em cair-lhe e que ele segurava de vez em quando, já farto de tanta escorregadela, com o pincel – o elástico que corria atrás da cabeça devia estar largo.
Como tudo que é natural pode ser comovente. 
E houve quem viesse confidenciar-me depois, “a educadora é muito boa no que faz, é genético”. Caiu-me tão bem. Não devíamos precisar, mas ouvir dizer bem de nós faz-nos falta. E falta muito nas pessoas a capacidade de reconhecimento do outro.


PS: andas benzinho? Não adoeças, tem cuidado contigo que este gelo que se agarrou ao astro traz muito perigo. 

Sem comentários:

Enviar um comentário