Olívia
Escrevo-te
por me apetecer. Sempre e apenas porque sim. É certo, vou aproveitar para me
inteirar sobre o que pensas dos homens. Não casaste. Houve um rapaz que te
gostou e de quem, talvez, tenhas ameaçado gostar. Porém, as saias da mãe muito
compridas; as tuas irmãs com mãos demasiadas, todas estendidas para ti; a casa
de teus pais a necessitar-te a carteira. Imagino que tenha sido assim. Mas,
quem sabe, foi diferente. Quem sabe, não arriscaste provar braços masculinos,
um beijo, um ardor compartilhado. Fizeste mal. Não to digo na cara, face a
face, seria muito mau porque já não emendas nada, és já outra depois de tanto
ano. Nem eu torço por torturas gratuitas, remorso, dor a mais.
Acredito
que, mais tarde ou mais cedo, te chegaram os
anseios de toda a gente. Sim, porque eras normal (ainda deves ser,
apesar de abolido o assunto) e a qualquer mulher chegam os anseios da paixão. Os
do amor não sei. Amor é sentimento que exige presença e só cresce com ela. Não
precisa ser física, mas tem que existir. Ou será mera fantasia, cuja serve também
na mesa da paixão. Em amor, se venha só, a fantasia esboroa, não se aguenta de
pé.
Imagino-te
a vida sintética: tratas da tua roupa e da casa sempre limpa, pouco cozinhas
porque não gostas e nem sabes, as manas poupavam-te sempre, temes o silêncio
nocturno do lar e foges a dormir num quarto que não é teu (não entendo esta
parte, palavra). Sempre só. Sorris por fora das graças dos outros, a ouvir-lhes
contar a lufa-lufa dos dias.
E
tanto que não sabes. Desconheces o calor de uma companhia mais íntima, não imaginas
a que cheira a pele lavada de um homem jovem, os teus dedos não se cruzaram com
a elasticidade firme dos braços, não os descalçaste qual gueixa a palpar-lhe a
incomensurabilidade dos passos no músculos da perna, não tiveste o ensejo de
ser grata à vida por um corpo junto ao teu, a mimá-lo. E isto, Olívia, sempre
lamentarei em ti. Sempre. Não. Não é não teres casado. Não é estares sozinha.
Estamos todos sozinhos, Olívia. Num momento ou noutro. Ou até talvez sempre.
Não
vês? Faltam-te memórias felizes. Memórias de corpo e alma. Que te pertençam por
inteiro e guardes como tesouro que ninguém pode retirar de ti. Foi sempre essa
a razão que me fazia desculpar, imaginando que te compreendia.
Mas
isto sou eu a pensar-te. Quem sabe, és feliz na igreja (com a comunidade, como dizes), e no trabalho que desenvolves em
prol de reuniões que só são absurdas para mim.
Mas,
realmente, penso agora, que sabes tu dos homens para além do corriqueiro das
mulheres, que é dizerem-te mal deles e me desinteressa...Sobre
o género masculino não és senão de escutar. E não me apetecem momentos
confessionais. Dou-tos e a teus padres.
E
no entanto, passaram-me na vida alguns excepcionais. Não porque fossem santos,
ou mesmo bons. Somente porque o amor é sempre uma excepção. Se queiras, para ti
que vives imersa em água benta, um acto sagrado.
Porta-te
bem e não mastigues a hóstia que é sacrilégio J
PS:
desculpa, mas um bocadinho de humor ficava-te bem. Falta-te à piedade:))
Beijinho
Sem comentários:
Enviar um comentário