É
isso, hoje escrevo sobre o sentido da lemechice à portuguesa:) Sim, porque uma
coisa é o significado teórico das palavras e outra o sentido prático e
quotidiano que lhes damos. E nós, portugueses, somos danados para inventar
sentidos a vocábulos que já os têm. Em nenhum lugar do mundo uma riqueza
vocabular é tão acrescentadamente galopante como em Portugal. E depois vêm para
cá com acordos ortográficos e o camandro. Pois que venham que a gente logo lhes
diz, levam uma bolachada que até andam de roda.
Então é assim, no dicionário do Google
– já utilizo menos o meu guerreiro de capa vermelha que bem me agradece a pausa
-, o termo lamechas é sinónimo de dramático, mariquinhas, queixinhas,
lamuriento. Tudo termos pouco lisonjeiros para o sujeito. Se formos pela
definição do priberam encontramos coisas bem mais interessantes. Por exemplo,
piegas e bajoujo, sendo que o último me era completamente alheio. Porém, a
dicção de dois jotas na mesma palavra é deveras sugestiva. Ora experimentem:
ba-jou-jo. E agora muito depressa, bajoujo. Mais duas vezes seguidas muito depressa
e sem tomar folego, bajoujo bajoujo. É uma coisa assim de boca, como dar beijinhos
pequenos, quase tudo com o lábio inferior, não é? Bonito. Pronto, tem o
inconveniente de também parecer a pronúncia nortenha de qualquer vocábulo, mas
que se há-de fazer?! A perfeição desexiste até nas palavras. Agora podia
esgrimir o argumento da perfeição divina de Descartes, mas não me apetece, portanto
ficam-se pela minha proficiente afirmação e chega. Ou seja, tudo é imperfeito
porque eu o digo e isso basta a este texto palerma. Digamos que a minha
omnipotência sobre o escrito é agradável. Se quem leia julga que a perfeição
quadre melhor, também pode, desde que não venha chatear com isso. Ah, pois, e o
que significa bajoujo?! Pois que dizer a quem se mostra muito apaixonado, senão
que é/está bajoujo (não sei se é do ser se do estar). Tem um bocado ar de
palerma o bajoujo dito assim, numa de amor perdido. Indubitável: prefiro um apaixonado (acho que
me caio todinha pelo ditongo e a consoante x soa-me a xeque-mate, coisa que em
amor, condiz) a um bajoujo, porque o último corre o risco de babar e o ditongo
é, ali, uma cinzentice. Outra coisa que me ocorre é se existirá o verbo bajoujar.
Basta googlar: há; mas, de tanta coisa diferente, nenhuma é apaixonar. Pode ser
por exemplo, bajular; ou acariciar; ou canonizar; ou deleitar-se e cortejar.
Enfim, um nunca acabar de sentidos, sendo que em nenhum cabe o óbvio da nossa
suposição.
E piegas? Piegas é uma palavra com o
seu quê de doçura entranhada, o primeiro ministro é que não conhece senão a sua
voz, ou saberia que o povo só usa o termo piegas quando diz ternuras a quem
gosta e sempre acompanhado de gestos a condizer. Ora como ele parece gostar de
ninguém do povão, o termo não se adequou e o eterno réu sentiu-se ofendido. Só
sou chamada de piegas por quem me gosta. Se outra pessoa utiliza o vocábulo, passa a
descabido e ofensivo. Portanto, senhor primeiro ministro, fora com o piegas que
nós não lhe demos autorização. Ponha-se no seu lugar se faz favor.
É assim, as pieguices são meiguice,
ternura que temos com quem gostamos. Por via oral ou em escritura. E são
lamechas? Claro. Bastante. Não são literatura? Pois…não devem ser. O que as
distingue da literatura é o ridículo e o sentimento na orla das palavras,
despreocupado delas e do sentido que possam ter. Pieguice é mansidão de ternura
aos gritinhos de estou aqui e isso leva a requebros e mesuras repetitivas e
queridas que estragam a literatura. E é que neste discurso se levanta outra
ordem e exigência que não a do sentido literário. No entanto, quem não gosta
das cartas de amor de Fernando Pessoa à Ofelinha?! Vá, venha uma pessoa que
diga, são uma bodega. Ou uma que afirme, não são lamechas.
Pronto, ia falar do ridículo, mas já
não merece.
Sejam
Felizes. E bajoujos.
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