Andar
de bicicleta sabe-me bem. E ando pouco, qualquer nada me compromete os pedais:
o frio, o vento, o calor em demasia, a pobreza das minhas forças nas subidas
íngremes. Enfim, com tamanha esquisitice, é claro que estreito a prática. Nadar
é outro prazer. E, ainda que não sejam comparáveis entre si, assemelho-os. Aprecio o silvo da roda da frente no alcatrão
de mistura com cheiros campestres que evolam, meninos que o sol levanta da cama.
E esta sensação de surpreender o dia ainda em pijama e a bocejar, lembra-me o
deslizar em água tépida que nos faz pertença do elemento aquoso: liberdades
adventícias que venero sem templo, mas com rotunda pompa interna. E, porém. A
satisfação que nelas o corpo pede, não depende em exclusivo de mim e, quem sabe
por isso, seja maior a paixoneta. Se a bicicleta tem as suas leis, nadar exige-me
inscrição em piscina, respeito horário e outras normas. Portanto, apesar do
bento regaço da Rainha, nem tudo são rosas.
De
acesso menos comedido há os livros, os filmes, algumas músicas. E a leitura e
escrita bloguística. Que é sobre a blogosfera que hoje pesponto. Descobri os blogues casualmente,
há um ror de tempo. E é verdade, dão a ilusão de conversa: há alguém do outro
lado, não necessariamente em simultâneo, alguém que existe de facto e é assim
como uma presença-ausência que está não estando. E o inverso. Sem os incómodos
e interrogações que um eu além do nosso suscita, estou penteada, tenho uma
roupa decente. Saltito de um blogue a outro e posso acumular actividades sem ser chamada de
mal educada. Posso comer, beber, cantar baixinho, assobiar, etc. Blogar
transfere o interesse da mente para a ponta dos dedos. É, digamos, um meio
cómodo para quem não quer chatices de gente à volta e deseja no fundo estar
sozinho. São os tempos modernos, a companhia virtual
possível. Pronto, na verdade ainda não descobri se há companhia. Mas há alguma
coisa. E, para quem não tem amigos ou os tem longe demais, ajuda, ensina, diverte,
entristece. Mas não muito a sério. Neste
mar de palavras e opiniões escritas há, por vezes, diferendos.
Dizem-me
que existem muitos mais motivos para frequentar blogues e escrever sobre
qualquer tema numa espécie de intercâmbio com quem se desconhece. Pois existem.
Mas só estou a falar sobre. Não tenho por objectivo esgotar o assunto. O
essencial parece-me ser um certo desejo de não matar o tempo sozinho, embora seja
também isso que acontece.
Sou
má bloguer, descreio um bocadinho no modelo. Mas nunca esse pé atrás me fez
desrespeitar quem está do outro lado. Se entro na casa de alguém, sou visita;
portanto, posso até brincar desajeitada, sair de fininho e para sempre, mas não pretendo magoar. Em cada “casa” apenas sei do exíguo de
palavras mais belas ou diferentes das minhas, com outros saberes e plurais nuances. Porém, não os invejo. Aquilo a que chamo por vezes “inveja boa”, é
antes o meu bater palmas, clap, clap, clap, por existir quem domine tal arte, sem
pretender escrever como eles (seria incapaz, ninguém escreve como outra pessoa). Uns de nós – poucos – são escritores. Outros, como eu, são
escrevinhadores. Sou outro eu, e é com este eu que sou que escrevinho. Nem
poderia ser de outra maneira.
E
não tem isto mistério .
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