Muito
se fala sobre a igualdade entre os sexos e o fim da discriminação feminina. De,
como quase toda a gente aceita - ainda
há quem viva na idade da pedra e faça gala na prepotência -, homens e mulheres serem
iguais em direitos e deveres, embora diferentes na sua anatomia e
particularidades de género. Mas afirmar a aceitação não é igual
a proceder em conformidade. Quer isto dizer que muito há a fazer. De vez em
quando, soa um gongo nos jornais: as actrizes de Hollywood queixam-se de que os
homens recebem um cachet muito superior ao seu. E nós pasmamos, então até nos
USA o costume se mantém?! Ou, como há pouco tempo, vêm queixar-se de produtores
sem escrúpulos que as assediaram e exigiram favores sexuais em troca de papeis
e pedacinhos de fama. E nós todos a condená-los, a julgá-los uns imorais.
Congratulo-me por mulheres conhecidas em todo o mundo terem tido a coragem de
os apontar e revelar a peçonha que escondem. Mas pergunto-me por que esperaram
tanto ano. Têm razão, pois claro. Mas a queixa e a condenação perde força
quando soa assim ao retardador. À época, eram jovens desconhecidas e sem
tarimba, não o conseguiam fazer: por vergonha, por necessidade, porque ninguém
as ouviria, por medo de represálias. Mas precisavam esperar tanto ano?! Além disso, sou forçada a
reconhecer: escândalos deste teor não mudam mentalidades. Escandalizam. São
notícia. Maldiz-se o indivíduo em causa. Ostraciza-se. Fazem-se cair do
pedestal alguns homens. Concretizam-se vinganças. O mundo digital explode,
somos todos pela moral e igualdade de género se não dá trabalho e é só dizer
ámem. E tudo passa.
Acontece
que a desigualdade começa na forma como somos educados. E, desculpem-me todos os
ministros de Portugal e mais todos os secretários e secretárias da educação,
mas nenhum fez a coisa como deveria. Supõe-se que a teoria leva à prática. O
que não é verdade. Como atrás referi, há um fosso aberto entre dizer e fazer.
Portanto, meus senhores, estes preconceitos só têm uma forma para desaparecer,
agir sobre eles. É o que fazem as sociedades nórdicas, muito mais avançadas que
nós na igualdade de género. Aprende-se em família? Sim, também. Mas está
institucionalizada nas escolas, faz parte da educação dos jovens.
Na
Suécia, por exemplo, em vez das teorias da batata que pululam por aí e não
levam a lado nenhum, todos os jovens entre os onze e os dezassete anos têm
aulas de, digamos, economia doméstica, que contam para avaliação e incluem
trabalho de casa e tudo (os tais TPC com que muita gente não concorda, mas eles
fazem). Aprendem a organizar-se em casa. Por exemplo, têm aulas práticas de
culinária e confeccionam refeições, aprendem o valor calórico dos alimentos e a
sua gestão económica – o que é mais caro e mais barato e os componentes
nutricionais. E depois almoçam ou lancham o que confeccionam. Mas não se pense que ficam por aqui. Nestas
aulas, aprendem a funcionar com os electrodomésticos: máquinas de loiça, de
roupa, aspiradores e o mais. Aprendem ainda a lavar a loiça manualmente e quais
os detergentes e formas de lavar cada peça, das mais às menos sujas. Aprendem rudimentos
de carpintaria, a coser botões e fazer bainhas, a passar a ferro e tricotar. E
isto, meus senhores, não é o antigo Curso de Formação Feminina, é uma
disciplina com avaliação e comum a todos os alunos, escalonada por graus de
dificuldade em cada ano. Portanto, à beira dos dezoito, não há jovem que não
saiba como fazer as tarefas domésticas. E a nenhum passa pela cabeça, suponho
eu, dizer como é tão vezeiro em Portugal, isso é trabalho de mulheres.
Vendo
bem, não há razão para tal desigualdade na distribuição de tarefas. Se no mundo exterior as mulheres
trabalham como os homens, ganham o sustento como eles - algumas até mais que
eles -, qual o motivo de, dentro de portas, ser ela a trabalhar, ou, em situação
mais benévola, ele a “dar uma ajuda” como se lhe fizesse um favor?! Todos somos
humanos, temos um corpo com dois braços e duas pernas, uma mente pensante e
mais o que falta. Também não consta que as diferenças anatómicas entre os dois sexos
tornem alguém menos apto para este tipo de tarefas (diria mesmo que elas nem
contam). Haverá quem, devido a características pessoais, seja menos hábil a realizar
uma ou outra, mas não podemos atribuir “a
culpa” ao género a que pertence. Conclusão: parece-me que, se os jovens forem
institucionalmente educados no exercício prático das tarefas caseiras, não há como fugir
à igualdade de género, pelo menos no campo da economia doméstica onde tanta mulher
portuguesa vai morrendo à hora. Mas será que essa igualdade interessa?!
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