Filme de 2013 |
O
que mais gostei no filme vem, curiosamente, do início. Há nele uma certa
identidade com o que penso seja a cultura indiana. A própria ideia de divindade
a ligar todos os homens, independente de crenças específicas, foi o grande princípio
de Vivekananda e a forma de unir os indianos e ser respeitado
internacionalmente, fazendo respeitar a Índia até aí dividida em credos
religiosos diversos. Narendranath Dutra pertence à História Hindu, foi marco do
progresso a que gosto mais de chamar proposta de humanismo socio político
assente em princípios religiosos. No filme, este espírito Pan encarna, supostamente
original, em Piscine Patel, o rapaz, Pi, que sobrevive ao naufrágio do barco
onde seguia com os pais, o irmão e todos os animais do seu zoológico. De posse
da sabedoria infantil, o seu deus reunia todos os deuses das religiões por si
conhecidas. Sem fronteiras, Pi limpa de supérfluo a casa da religião e deixa ficar aquilo com que hipoteticamente, irá
viver a vida toda. Para além desta, a segunda impressão foi do
maravilhoso que percorre o filme. Ou seja, a maior parte do filme é impossível.
Irreal – ainda assim, quase de certeza
dei uns gritinhos, mas pensava no 007 e acalmava – Não é crível tanta provisão
num bote, menos o é uma viagem em que o rapaz se vê com uma zebra que aterra lá
dentro, a macaca Orangejuice e o
tigre Richard Parker, nadador
espetacular. Além do mais, o início do naufrágio mostra pessoas no bote e é
repentina a viragem para a companhia dos animais. Depois seguem-se as
peripécias incríveis de sobrevivência dos dois, de que saliento uma chuva de
peixes voadores mesmo na hora H; mas são todas tão espectaculares quanto fictícias, e em
que o único real podem ser impulsos e crença, a vontade de viver de ambos e a confiança religiosa
de Pi. E o mais incrível, para quem ainda não tenha dado por isso, é a ilha
onde aportam. Tudo nela é mágico desde o chão. Tudo. Como se o realizador
queira apagar dúvidas, tomem, aclarem a
mente.
E quando, quase no final do filme, o contador Pi diz ao jornalista escutador que a
história contada à companhia de seguros teve de ser outra, sabemos ir conhecer
a verdadeira história. Mas já não acreditávamos na anterior. O jornalista
preferiu o mito. Talvez porque Richard Parker o olhava. Tranquilo. Da selva.
E
quem quiser saber mais, vá ver o filme. Leia os, de certeza muitos, outros
posts. Por certo digladiam o sonho e o real, falam da necessidade de imaginário
quando o real nos afoga no hediondo da sobrevivência. Da razão que não é
caminho de preferência, do relativo entre bem e mal, da luta entre instinto e
razão que é fraca ou nenhuma perante a iminência da morte.
Deixo
uma arenga a todos os que, como o jornalista, preferem a luta titânica de um
rapaz e um animal selvagem entre si e contra os elementos: ela não seria
possível sem a realidade. Eros falou sempre mais alto. E não há como desligar
os dois mundos sem criar desumanidade.
PS1: talvez a minha análise
seja um pouco diferente. Será porque me esqueci de colocar os óculos 3D, ainda
virgens na minha mala :))
PS2: Apesar da ausência dos 3D: Há qualquer coisa de luxuriante e sensorial a irradiar em todo o filme, do sotaque à ponta dos cabelos de Pi.
Sem comentários:
Enviar um comentário