Dar é um prazer muito humano.
Dar. Porque se gosta. Porque os outros precisam. Sem porquê, além do amor. Dar
só existe se é transbordo do coração. O resto são entregas; pagas; moeda de
troca; compra de favores. Mimesis.
Quem dá, dá de coração e não
espera retorno senão o do sentimento. É este pensamento que me orienta o
espírito de Natal, aniversários, comemorações e situações de coisa nenhuma em
que simplesmente me apetece dar; porque alguém se me presentifica numa montra
ou num objeto e intuo como sinal. E nunca tal me foi engano. Dou a quem gosto.
Na esperança da irrupção da alegria. Afinal, sei-lhes vaidades e gostos; e
também necessidades. Conheço-lhes a vida.
Por isso me surpreenderam os teus
olhos fugidios, nevoentos, quando recebeste a minha prenda de Natal. Comparaste?
Quando ta comprei pensei que abdicava de qualquer coisa para mim, e ta dava a
ti. E fez-me feliz a ideia. Palavra. Talvez por isso, deixei cair o teu olhar
sombrio, as tuas palavras de vento a cortar, este ano só dei prendas baratas; não mais os lembrei. Até te ter visitado, tempos depois. E quando
me mostraste a compra que fizeste com a minha prenda – tão linda, tens melhor
gosto que eu, deve ficar-te bem - que
não vestiste para que eu visse, antes me estendeste um livro. Toma, comprei-to no mesmo dia.
E eu que gostava e era verdade,
que não sou capaz de não gostar de livros. Mas senti um aperto cá dentro,
porque nunca antes me deste um livro sem quê;
pagavas-me a prenda de Natal. Não compreendes que és incapaz de ma
pagar.
E um frio de seda entre nós. Que
decerto não sentes.
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