Persigo Daniel Day Lewis. Espio-o
por bem. Admiro-lhe o génio desde que, completamente por acaso – um bom acaso -
o vi em My Left Foot. E tudo dele me
aumentou, no filme que procurei a seguir, In
The Name of The Father. Depois, assisti ao truculento Bill
Cutting de Gangs of New York.
E
rendi-me ao talento.
Filme de 2012 |
E
agora, Lincoln.
Penso
no que me faz correr para este actor. E concluo, sem originalidade, que é o seu
despojamento. Isso mesmo. Que só me parece possível à custa de sofrimentos,
tensões, e intensidade dolorosa do personagem. Como se Daniel Day Lewis desista
em cada filme de estar e se levante alguém outro, de carne e osso, com tiques,
modo de falar e andar próprios. Esta ideia vem-me talvez de me ligar à
importância dos pormenores. O certo é que, se o comparo com outros atores e
colegas de ofício, o distingo. Tenho pelas mãos de Meryl Streep um fascínio
antigo, são emotivas mãos falantes. Contudo, em todos os filmes as mãos dela
repetem pequenos gestos maquinais e que conheço, por exemplo, o gesto de alisar
o cabelo a acomodá-lo atrás da orelha. Ora Lincoln,
todos o sabemos, não é um cume como, por exemplo, My Left Foot. Mas é um extraordinário retrato. Onde não encontro
Daniel Day Lewis ele mesmo.
Claro
que a História também interessa. Trata-se de uma América sangrada e de um
presidente cansado e em luta pela paz que, bem o sabe, exige a aprovação da 13ª
emenda à constituição americana. É o princípio da concretização de uma ideia: o
fim da escravatura. E a luta entre democratas e republicanos.
Mas
o filme vive da humanidade de Lincoln. E nela existem o contributo do
realizador e o do actor, a secundar-se. Ora, em toda a história, a vulnerabilidade
do presidente sente-se-lhe na expressão do rosto, na voz arrastada e no andar curvado de velho
prematuro, tão comum em pessoas muito altas. E é nessa humanidade tão
gratamente inventada que o génio do actor exulta. Spielberg, por seu lado, dá-nos
as relações de proximidade, um bom pai, um bom marido, um chefe que se mistura
e está presente em locais inesperados e comuns, que tem vocação de contador de
histórias e a bonomia recta que lhe grangeia popularidade e nos torna
simpáticos os republicanos.
Fulgurante
Lincoln este.
Para os apreciadores aqui fica um "cheirinho" do talento deste grande actor: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=j1kAsDx-aLc
ResponderEliminarMuito obrigada pela achega. Já estive a ver e reparei que me falta ver ainda alguma coisa importante da sua filmografia. Tenho que tratar de resolver este problema :)
ResponderEliminarUm abraço de obrigada