Polónia.
Florescente país de mulheres elásticas e serpentinas. Lugar de gente metida
consigo e rodeada de amena vegetação de crianças, beleza eslava e diversa da
latina onde mora um jeito cigano e palrador que estrebucha, resmunga, se rebela
sem pejo. Polónia é terra de homens sem graça, rosto de bebé chorão que cresceu
anómalo e não condiz. Os seus campos encompridam a lembrar a doçura da paisagem
Toscana imbuída de verdes-veludo e fenos arrumados em cilindro. Falta o aprumo
pretoriano dos ciprestes montado no redondo das colinas. Que, pelo chão, há
idêntico amarelo campesino e simétrico. Ou não fosse a Polónia um país agrícola
de campos rectos, lisos, com o viço da floresta em fundo. Expostos à luz, são
beleza crua, expurgada da suavidade
poética que mão divina arredonda na Toscana, para se entreter de gosto a
posicionar cada cipreste em seu lugar natural.
A
poder de euros, o país acordou para a febre de estradas e evolve num rodopio de
obras e filas de trânsito. E enquanto o meu pobre Portugal se consome e imola
pelo fogo, as florestas polacas vestem-se de penumbra e refulgem no fresco mistério
de gotas a desprender. Desde a raiz, cada árvore desafia o infinito. Nos caminhos
sinuosos, um aconchego de folhas a sobrepôr cria um mundo de segredos e arreda
o firmamento, o solo em teia de raízes. Ciosa, a floresta encerra o passante
dentro de si e recebe-o no seu interior de clorofila e humidade. Isola-o. E
prevalece. Vibra nos pequenos sons, nas
gotas que caem sobre o solo, na agitação ciciada dos ramos mais altos, no
restolhar de animais que passam a escapulir-se dos pés. É a eclosão exudada da
natureza sem projecto. Fertilidade de silêncio. Húmus que se respira.
Transpiração odorífica que entontece. Peculiar, íntima. Ali, a nudez do homem
ajoelha à liturgia de força sagrada e vegetal. Cede à voz da terra. E diminui
ao seu tamanho. Sem basófia. Ele
e a terra originária. Ele, no imenso templo natural. Em clausura e liberdade.
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