Sol
inclemente. Deus Nosso Senhor não quer que nos falte nada e mantém-nos à temperatura
alentejana, mas mergulhados em humidade. Rodeados de sinos que, bracaramente, tocam alvoradas pontuais e estremunham o sono
de hora em hora. E nós endorminhados, baralhação do pensamento sacudido por
instrumento de sopro, algures, deve haver um quartel. E não. Lemos mais tarde,
na história da Bazylika Mariacka w
Krakowie que o despertar nasce ali, no rigor das trompetas marianas. Só na Polónia as freirinhas passam naturais,
sandália aberta, mochila nas costas. Ninguém as estranha e nem desenquadram apesar
do hábito que lhes encerra o corpo. Só Em Cracóvia vi jovens, bonitos e
bronzeados, enfiados numa batina que lhes dançava em volta do corpo de vime
esguio. Terra de muito catolicismo e clima agreste. Na sombra quente dos
parques, passeiam mulheres de pele branca, topázios e esmeraldas no olhar. Lindas
e loiras, repelem pobrezas e gente sofrida
que também há. E os estrangeiros embasbacam nos machos polacos que ajoelham
contritos a um altar, calções e mochila às costas, mãos de orar, olhos em prece. E há mulheres em
fila para o confessionário de um jesuíta. Não se sabe o que ali deixam ou
recebem, mas alguma coisa será. Aguardam. Quem sabe, aliviam a contar o que as
tolhe e a confissão as despe de peso. Talvez terminem de alma nova, que o rosto lhes vem
igual quando ajoelham penitências, mãos postas e lábios cumpridores. O que
pensará Deus de faltas e erros que esvaem na borracha de arrependimento e
oração. Que estranheza lhe franze a divina fronte se atenta nos homens e seus
apetrechos de viver. Tudo são formas de aliviar a vida tornando-a, em cada vez,
um recomeço. A catarse é condição de recomeço. Contudo, deuses e homens sabem
que recomeçar não é possível. E não é a vida feita de pequenos impossíveis?!
Depois
há a praça gigantesca e ruidosa. As arcadas e restaurantes floridos. A meio, impõe-se
o edifício do mercado repleto de gente e lojas em comboio. E o calor a
lembrar-nos o ar condicionado de casa, o descanso na redoma de paredes antigas.
Lá fora, a hera não nos repara. Ocupada a subir paredes, ergue em passo
certo de folhas, pequenas mãos de clorofila viçosa.
Sem comentários:
Enviar um comentário