E
se é necessário poupar? Bom, aí, ela passa no supermercado com a obediente lista de géneros
e preços, a tentar abrir folga no
orçamento. Ele concede, deixa de almoçar
no restaurante, ela cozinha e prepara-lhe a marmita do almoço – diferente do
jantar por ser aborrecido ele estar sempre às sobras. Em época de poupança, se
existe, corta-se nas horas da empregada e
ela “dá um jeito” para que tudo continue a rolar como antes; acabam-se as
esporádicas refeições em restaurante, ela cozinha sempre; ela corta no
vestuário – no dela que tem muito que vestir, os garotos estão a crescer e ele
precisa estar bem trajado, o fato sem brilho. O marido dela é um senhor. Ela
arca com todos os trabalhos e limpezas antes que ele goze férias porque um ano
inteiro de trabalho é coisa cansativa para ele.
Em
épocas de aperto, não há férias para ninguém. Mas, enquanto ele lamenta ficar
por casa, a ela tanto se lhe dá. Evita rumar a lugar diverso e, numa casa que
não é sua e onde algum utensílio indispensável está em falta, fazer o de
sempre: passar, lavar, providenciar as refeições. E tudo isto acrescido do fazer e
desfazer das malas, de acautelar a rega
das flores e alimentação dos animais deixados para trás, de ambas as casas ficarem
em ordem. Nos aniversários e festinhas dos garotos ela poupa fazendo os bolos e
o mais; ele, leva ou trata do vinho.
Se
ela adoece, ele leva-a ao médico num desamparo aflito porque a casa, porque as compras e as
roupas, porque tudo. Mas depois da receita médica que em pressas pressurosas
vai aviar, ela cura-se e melhora de imediato e não se fala mais nisso. Seja o
que for que teve, já não tem. A vida volta ao de antes. Mas se ele adoece, ai que
está tão doente e não pode fazer isto e nem aquilo. Na verdade não pode fazer
coisa nenhuma das poucas que antes fazia e ela arca com mais uma criança em
casa, cheia de queixas, aí não que me dói e vê lá se não estou com febre, a testa
fresquíssima e o termómetro a marcar 36,5. E que me dói aqui e esfrega lá, e é
que ali também tenho dor, e nunca estive tão mal. Enfim, a doença dos homens é o
purgatório das mulheres.
Que
diabo acontece às mulheres que eu conheço para aturarem tais espécimes. Contudo, as separações vingam
por motivos mais esporádicos como haver um terceiro elemento metido ao
barulho ou os adorados cônjuges jogarem o ordenado em noitadas de tudo a que
ele chega por junto. Quanto ao primeiro motivo, a existência de um terceiro
elemento poderia até ser útil, constituir alívio, sempre é menos uma função,
ficam mais folgadas. Mas em vez disso, ofendem e arrufam se outra lhes disputa
o macho. Não se ofendem do disfarce de escravatura acostumada por anos e anos. Ah, pois, o amor. O ciúme que só quem ama sente. O ódio que tudo seca e não permite em redor uma erva verde. E mais todos os sentimentos e emoções que
entretêm os homens.
As
mulheres que eu conheço são estúpidas. A sociedade estupidificou-as desde
sempre. Algumas – não assim tantas como isso -, com conhecimento próprio e, portanto, ainda mais esparvecidas.
Temos de esperar nos vindouros. Que sejam outros. Ou não há remédio. Fósseis são fósseis. Ignoro é se a educação que lhes damos não está ela também fossilizada.
Temos de esperar nos vindouros. Que sejam outros. Ou não há remédio. Fósseis são fósseis. Ignoro é se a educação que lhes damos não está ela também fossilizada.
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