Bem
sabes que as minhas dúvidas são perenes e que as minhas diminutas certezas abrangem
um nico de ideias, e ainda menos de pessoas. Faz o favor de não te
irritares, não sou céptica em relação à humanidade, mas, reconhece, deixaste-nos
incompletos em demasia. Pensando melhor: sou céptica em relação aos homens
género masculino e às amizades sem género. Por mim, já sabes, não aposto em
nenhumas destas categorias. E quero mas é que se lixem (gostei de escrever
isto, calha bem). Vou rever-lhes as posições.
Bom, e posto que para Ti há só
eternidade, esta coisa de Ano Novo e Boas Entradas, não te serve. Mas olha lá, como é que se pode – no mundo dos
homens, claro - desejar bom ano a
alguém. De forma honesta, quero dizer.
Fora de fórmula e sem protocolo. Experimento escrever a frase e noto-a
dissonante, um barulho de lata no meio da música. Leio alto e não conjuga. Não
dá para acreditar em desejos de bom ano se forem de ano inteiro. Nunca dá. Um ano é tanto tempo! (dantes os
anos passavam sem dar conta e agora cruzam-me tão devagar que não os entendo). Pode
não parecer, mas nesse interim de centos de dias, acontece TUDO. São doze meses, cada um com 30
dias – pronto, há um com menos, mas sete têm mais um. Ora, 365 dias, a 24 horas
cada, é uma conta bicuda. E por aí fora até aos milionésimos de segundo.
Contudo, é de experiência, num átomo se nos esvai saúde, dinheiro, amores e
outros imprescindíveis; ou nos esvaímos nós. Resultado: um ano é um amontoado
de oportunidades para. Portanto, cautela com ele.
Assim, é com pinças que entreabro as
primeiras folhas a cada ano de
calendário: devagar, com cuidado para não
atrair as desgraças que estão por ali em revoltinhos, ensalganhadas com as
coisas boas que, já se sabe, são frugais. E depois, podem pensar, se elas lá estão,
vão sempre acontecer. Não, não. Os anos nascem com a prerrogativa da vida, são um
bouquet de possibilidades que puxamos à existência. Aceito, abundam contingências
e necessidades provenientes do acumular de vida onde o corpo se gastou (tudo
nos marca), genes que nos afundam, a
barbárie de alguns erros... são as condições gargalo de garrafa. Se a vida é
mais longa ou menos ágil o pólo da sorte, o possível afunila. Quem sabe esteja aí
a causa do tempo a preguiçar, horas compridas inchadas de minutos que lagartam.
Deus, eu só queria que 2016 fosse
menos comprido.
E a paz no mundo e isso?! Ora, há
mais de mil anos que assobias para o lado queres o quê?! Deixei de acreditar.
PS:
se não conseguires cortar no ano, podes cortar-me a mim. Estás à vontade.