sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Hiato


A música mora num canto da Praça de Espanha em Bruxelas.  E também noutras ruas, é certo. Mas é ali que se juntam dois ou três músicos de orquestra a tocar os clássicos. E tão bonita a harmonia do som a vogar surpresas na multidão, qual brisa que a atravessa e abranda,  apazigua rostos e alisa expressões, o olhar grato a compassos que estendem mãos à chave da memória. Se uns páram a gosto, noutros, os passos abrandam involuntários. E há quem deslembre, a alma a evadir do corpo posto em admiração. Foi assim com aquela criança que rompeu o círculo involuntário e avançou para o som até ficar frente a frente com os músicos. Quieta, a chupeta a murchar num canto da boca, olhos muito abertos.
E ninguém desfez aquele supremo.

Olhei. E uma compreensão toda nova dominava a praça. No ar, de mistura com as notas, uma exalação rendida e infantil.

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