segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Sopro

Olívia

            Bem sei que hoje não tens tempo e és bebé. Que os mais próximos, pelo menos esses, te vão abraçar e dar parabéns. E nem sabes quanto desejo que assim seja.
            Quem me dera poder fazer-te um bolo com velas. Um bolo suave, a destoar daquele em que a mana se enganou na receita e ficou dulcíssimo, as senhoras todas finas e mundanas (outro mundo, outro mundo) elogiando por bem parecer, pires xpto na mão. E eu sabendo que não, mas fingindo também. Far-te-ia (ó estranheza de conjugação) um bolo comum, sem extraordinários. Só por gosto de fazê-lo. Contente de ti que gostarias ao menos da ideia. Porque és pré diabética e o fígado, e mais mil e um motivos que encontras para te furtares aos doces que nem aprecias; e também por teres um bocadinho a mania das doenças, sua hipocondríaca disfarçada:). Ainda bem que não te perdes a googlar a lista completa de maleitas com mais os adereços. Endoidavas de vez.
Mas repara, a ideia de haver em alguém uma alegria de que somos causa, é prazer semelhante a quando sobes com dificuldade uma rua e lá no cimo verificas que o resto do caminho é descendente. Suspiras de alívio e satisfação. Hoje, és a minha rua a descer.
Olha, também podia fazer-te uma diáfana massinha de peixe (mas tinha menos piada e deslocava). Ou, quem sabe, não preferias a sopa de peixe à alentejana, um caldo de peixe com tomate e sopas migadas no prato. Com o teu amor pelo pão eras bem capaz de preferir o último. E escusas de negar, bem sei que nos restaurantes usas de contenção para não o atacares com vigor. Há pormenores que fixo sem querer, queres o quê?!. Mas pronto, deixemos o cardápio em paz. Fica só o bolo sobre a mesa e pronto. E depois apagas as velas com as crianças. É um dever teres crianças por perto; não há bolo de anos que valha a pena sem crianças. Que é para acenderes as velas n vezes. E elas apagam à vez, agora sou eu, agora eu, tu já foste, chega-te para lá se faz favor, eu é que fico aqui em frente do bolo. Portanto, minha doce amiga, junta vizinhos, primitos pequenos de terceira ou quarta geração, não importa quem, mas crianças.  Porque a vista dos bolos de aniversário insufla-lhes as bochechas e cantam que se desunham. Nada a fazer, são exuberância necessária ao teu dia.  
E parabéns por mais um ano. Aproveito o momento e saio enquanto o coro deles entoa e só as velas brilham no escuro. Na verdade,  mercê das circunstâncias e de nós duas, não chego a fazer-te falta.  No entanto, como outros que te rodeiam, estou sem estar.

Um beijinho doce e algum génio para mais um ano difícil

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