sexta-feira, 4 de maio de 2018

Tolentino e Eu


Leio Tolentino Mendonça há anos. Tenho  alguns dos seus livros.  Os primeiros chegaram-me via amigos, um agrado carinhoso de quem me quer bem.  Depois, por gosto e sabor, comprei mais um ou dois.  Já li vários poemas  seus, puro bom gosto de quem os mostrou na net. Em consonância, sempre que posso,   leio as crónicas que escreve para jornais e revistas. É uma escrita sempre empenhada na vocação. Acredito de pés juntos que tem vocação para se dar aos outros, que o facto de ser padre pouco me importa, embora reconheça: é talvez a melhor maneira de ele se (e a) cumprir.
Toda a gente sabe que nos media as crónicas são encimadas pelo rosto do cronista. Acontece que sou um bocado desligada da imagem, confundo os meus amigos com outras pessoas, levo o tempo a reconhecer pessoas na tv com quem é impossível ter tido algum contacto. E outros desconchavos. Portanto, o Tolentino, como a maior parte da gente que leio, não precisa ter rosto ou figura. É o Tolentino da escrita. Logo, passo pela foto como cão por vinha vindimada e atarracho nas palavras. Facto que não belisca o meu apego. Porém,  tenho funda crença que a minha preferência literária e humana naquilo que ele mostra na escrita, lhe são benefício. A forma não sei mas, existindo uma sintonia desinteressada com alguém, creio eu que o alvo do bem querer robustece.
E como me alegrou ler (na Visão) a conversa entre ele e Lobo Antunes, dois dos meus escritores de eleição. Não a vi. Li-a. Pode que esteja na net (estará), mas dispenso a imagem. No caso daqueles dois, a palavra sacia o desejo. E digo até mais, a imagem é fonte de distracção e talvez que, inadvertidamente, deixemos cair alguma preciosidade. Ora, no caso desta reunião feliz, nada se pode perder. Tão bonito terem entrado os dois de mão dada – mas isto, desculpem, é Lobo Antunes chapadíssimo. Tenho dito.
Pois este ano frequentei – com mais umas duzentas e tal pessoas – uma espécie de curso livre na Capela do Rato, onde Tolentino é pároco. E lá estava o Padre Tolentino na primeira sessão a dar o pontapé de saída ao lado de uma professora que conheço e que onde mete o bedelho sai obra apurada. Confesso que nesse dia não lhe liguei grandemente e nem me lembro do que disse. Foi dos melhores cursos que frequentei. Em todas as sessões, as paroquianas se referiam ao Tolentino num corre corre de novidades que me lembrava os ingleses e a sua relação próxima à família real. Que estava em Roma a fazer o retiro pascal ao papa Francisco e mais àqueles bispos todos e doutores da religião. E que na net assim. E que na net assado. E passavam umas às outras o endereço digital onde, suponho, ele colocava a via sacra do retiro (não seria a via sacra, mas talvez um resumo da orientação espiritual que punha em prática). Não me interessou. E depois havia aquela gente que babava com as suas homilias. Que as suas missas são únicas e as homilias um espantoso espanto. Confesso que desejava ardentemente que o Tolentino voltasse a ver se sossegavam o espírito. Aquietaram.

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