Projectava
visitar-te no verão. É vero. Não sou de
juras, promessas são para cumprir e
pronto (se as não cumpro, é que não posso mesmo). Habituaste-me a esta amizade-laço
com mais fita deste lado. Tens de reconhecer, dás-me uma pontinha breve, mal dá
para nos atar.
Nunca
quis mudar-te (bom, quis um bocadinho). Aceitei ser sempre eu a visitar-te. Por
meus passos e iniciativa, vês-me uma vez ao ano. Contudo, aceitei a prioridade
da prima de Lisboa que vês muito mais vezes e em eternidades de tempo. Aceitei
os natais sem um cartão, o aniversário sem lembrança, os dias enfiados em coisa
nenhuma. Que, até via telefone, sou eu quem te procura. Por amizade a um tempo que nos
juntou e dizes lembrar. Sem gesto ou palavra que me alcance. Por te compreender
melhor do que julgas apesar de sempre te retorquir sobre a religião, sobre a
forma de vida que escolheste e que, ainda assim, podia ser-te mais prazenteira.
Aceitei que não sei mudar-me ou mudar os outros, sobretudo no peso da idade.
Tens de concordar, somos senhoras maduríssimas. Achei natural acompanhar-te nessa doença familiar, sem me impôr. Entretanto,
conversa atrás de conversa, deixas cair que fazes aqui uma refeição
quando segues a caminho de Lisboa com os primos. Ou os tios. Ou quem seja. Um ritual de paragem.
Doeu,
caramba. A dor situa-nos. Contudo, bastava um, estou na
tua terra, vem ver-me, e saía desabalada. Repara que nem sequer peço que desvies caminho (qualquer
amigo normal o faria). Mas não te ocorre ver-me. Por que carga de água faço eu mais de
150 km para expressamente te visitar...é coisa que não explico.
E portanto. Se ligo, não te conto que a anca não me tem deixado sentar, que já
o faço sem dificuldade por períodos curtos, que estar quieta no cinema ainda me
deixa a barafustar no assento, que escrevo devagar e não tenho conseguido senão
umas frases soltas porque o incómodo não me deixa pensar, que vejo filmes
deitada com o écran do portátil na lateral. Que a vida sem escrita me
amargura. E impede. Tudo coisas sem interesse. No teu entendimento sou
incólume e vivo de alegria. E podes crer que faço quanto posso para ser
verdade.
Não
vale a pena somar impossíveis. Sou tua amiga sempre e não há mais conversa. É ponto assente. Portanto, quem sabe se para o ano a mágoa se me esbate e me ponho a caminho de
S. Pedro. Sempre em frente. Até à brancura de um ninho de casas.
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