segunda-feira, 3 de junho de 2013

sonhar azul

Se me perguntasse alguém onde gostaria de viver, respondia, na praia. Talvez na casa branca da falésia de que fala o conto de Sophya. Mas a verdade é que a praia me esgota. Vou umas horas e chego arrasada.  Derreia-me. Esfalfa-me.  Nem a desejar sou realista.
Por volta dos vinte, mal chegava e já as minhas glândulas sudoríparas pareciam uma torneira mal fechada. Se estava de bruços, o suor fazia rega gota a gota na toalha, facto que me afligia sobremaneira por me parecer que não acontecia aos outros.  É como se a praia esteja a cobrar-me o lugar. Amor exigente, este. Consome-me, suga-me parte da vitalidade. Contudo, não acredito que alguém possa gostar mais do cheiro da maresia; apesar das dores de cabeça de às vezes. E a água do mar é-me terapia, lava-me males internos, dá-me até a ilusão de os dissolver. Portanto, não se imagine que algum banho de mar me é normal. Cada um é baptismo eficaz de onde saio de cabeça leve, um arcanjo.
Vou muitas vezes à praia acompanhada. Mas é indubitável que prefiro os nossos tête-à-tête: eu e ela; nesses dias em que não me visita a saudade de conversa e estamos uma para a outra. E mais a aprecio em pormenores, do céu azul aos peixes que esgueiram das nossas pernas em corpo de radiografia. Temo-nos uma atenção de amor, de tomar conta. E ali existo separada. Completa.

Mas Chego a casa e sou um infindo monte de cansaço. 

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