quarta-feira, 31 de julho de 2013

Coisas

“(…) entrarmos no mar às seis horas da manhã. Por quê? Porque é a hora da grande solidão do mar. Como explicar que o mar é o nosso berço materno mas que seu cheiro seja todo masculino; no entanto berço materno? Talvez se trate da fusão perfeita do masculino com o feminino. Às seis da manhã as espumas são mais brancas. (…) Depois voltarei ao mar, sempre volto.”
                                                                   Clarice Lispector

Clarice. Que só na morte atravessa livremente continentes e mares, toda fora da saudade que a perseguia quando assim. Metamorfoseada de livro, a desfraldar seu encanto sinuoso páginas afora, um longe de dedos a acenar assentimentos, sim ela é um mistério. D. Clarice. Arde em zonas penumbrosas que lhe dobram o incógnito, lhe acertam o côncavo das maçãs do rosto, lhe sublinham a curva da boca e descem devagar à figura. Que nenhum destes encantos chega perto de se pensar a si e ao mundo de tão próprio jeito. E mulher mais próxima de Pessoa no amor à língua portuguesa talvez des-exista. Des-encontre.
Eu lhe respeito, D. Clarice.


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