As
coisas que a gente encontra por este Alentejo de Deus! Bom, neste caso é apenas
nos meus dossiers de memórias. Memórias de projectos tecidos em conjunto entusiasta.
É bom relembrar verdades que não passam, onde estamos hoje como ontem. Inteiros.
Dantes,
em todo o Portugal, mulheres e crianças “iam à lenha” No Alentejo, “ia-se à
bossa e ao ganhoto”. “Andar ao ganhoto”, ao contrário do que o dicionário
indica (rebento frágil de figueira, podado geralmente no inverno), ou, quem
sabe, por causa disso, quer dizer “apanhar pequenos pedaços de lenha”. Talvez
já não precisemos de “andar à bossa” (apanhar lenha miúda e pequenos ramos);
talvez todo o calor, ou quase todo, seja hoje instantâneo e imediato,
eléctrico, postiço, sem ter por dentro o esforço de procurar por pinhais e
montados a lenha deixada para trás e que alimentava lumes caseiros. Porque não
se acendia a lareira. Fazia-se o lume. E
é verdade que fazer o lume não é acender a lareira. Há todo um trabalho
concentrado na expressão “fazer o lume”, um tempo que é das mãos e do cuidado.
Porque o lume não há. Faz-se. Valor da força artesanal que é também arte. Se
todos sabemos acender uma lareira, nem todos sabemos “fazer lume”. Um lume
exige ter andado à bossa com critério, ter trazido um feixe de lenha à cabeça e
umas pinhas de braçado. E chegar exausto, mas feliz do calor que há-de ser e se
trouxe para casa. Lume é lenha partida por nós, ganhoto a ganhoto, uma arte de
misturar e dar a cada tronquinho pequeno o seu lugar. O lume só “pega” se for
construído como se de casa se trate.
Haja
quem procure os ganhotos de acender os lumes do nosso contentamento.
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