sexta-feira, 21 de julho de 2017

Causalidade


Apetecia-me um lugar certo para deixar histórias. Me ir deixando. Não como outra qualquer, como eu. Que não se dá por um eu entre tantos. Isso contou. Conta. E criei o blogue.  Dei-lhe um nome simples e não chamativo, daqueles que não lembra a ninguém.  Usei pseudónimo bem longe do nome e próximo do tal eu que é mim.  E estou para aqui neste arrazoado porque li, algures, que todos os blogues nascem com prazo.  Acrescento que tudo que nasce ou começa tem prazo. Termina. Acaba. Fim. Este blogue, no meu horizonte, termina comigo. Na minha morte. Há coisas assim. Bom. Sei da possibilidade de mil factores que o farão sossobrar. Pois. Mas são alheios à minha vontade. Não ignoro interferências externas, espero apenas que nos poupem (a mim e a ele). Neste sentido, o blogue vai ser quase eterno e durar a minha vida toda. A que falta, quero dizer. E nada de risota, bem vejo a contradição, não tem uma eternidade  longa. Ainda que eu escreva nele apenas quando a vida consente. Sim, sim, que a vida – a minha – nem sempre se predispõe ao tempo da escrita. Eu para ela, apetecia-me escrever, dá-me um tempinho, vá lá... e ela a assobiar para o lado. Podem não acreditar, mas sinto que a minha vida nem sequer é minha, tal o pouco caso que me faz. Mas não tenho outra; portanto, faço por esta, acabido-a.
Quatro anos de blogue. Imagine-se o tempão. É que nem sabia disto (e nem me interessa muito). Outro dia, uma bloguer falava de seis anos completos  e afirmava que o seu era um blogue criança. E fui-nos investigar. E vi que o meu blogue é do mais adulto que há. Mas sem bolinha, que não sou muito dada às violências ou à chamada pornográfica que acho mesmo uma grosseria em forma de gente, elemento deturpante do que a vida  tem e pode ser originário e belo. Não consigo entender quem ajavarda, mas pronto, é problema meu e que nem acho resolúvel; o melhor é des-pensar.
E. Portanto. Dizia eu que o meu lugar de escrita tem quatro anos e é adulto. Calculo que seja canino e cada ano valha por sete. Ou mais.
Mas afinal para que escrevo? Ora, porque gosto de escrever mansamente e sem outra censura que a minha. Corrigir. Apagar. Eliminar. Deixar às moscas (a maioria dos posts fica, digitalmente, às moscas). Fazer das palavras o que apetece na hora em que apetece (isto da hora do apetite é puro desejo). Pronto, dominar. Alto lá, que é um domínio todo cheio de mesuras carinhosas, do estilo, queres ir para ali, pronto, vai lá. E a seguir, queres voltar para o lugar anterior, está bem, anda, dá cá a mão que eu levo-te. E vou-as encaminhando até nenhuma querer enfeitar-se, sair, fazer permuta. Estou ao serviço delas. As palavras.
Para quem escrevo? Para quem ler. E, caso desinteresse, posso ser solipsista: escrevo para mim.  Exigência e apetite estão de pedra e cal. Se acaso investigo navegantes de minhas águas, verifico que vivem nos EUA. São máquinas e não pessoas aqueles que por mim passam. E depois?!  Eu gosto é de escrever. As máquinas não me entendem? Ah, ah, ah...e sendo gente, entendia?! Hummm...permitam-me a dúvida.
A minha vida reclama, perdes tempo; só sabes perder tempo e não tiras lucro de nada. E não é que é verdade?! As tias velhas diziam que ia ser virtuosa por desgostar do dinheiro. Enganaram-se. E não se enganaram. Ora não fui virtuosa de profissão ou carácter.


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