No
amanhecer do verão
A
humidade da maresia pulsa como um mistério
Ondas
meninas de beija pés trouxeram
conchas
e búzios de maré vaza
que adormecem,
lânguidos, na saia de areia.
Tácteis,
as ondas de mil dedos rodeiam-na a toda a volta
refazem-lhe
o remate rendado
esmeram
a filigrana de espuma
aqui
uma frioleira, ali um pico de bilros
lá
atrás um abraço de remoinho em arte veneziana.
Fora
de ser si mesma,
sem
densidade, a areia rodopia etérea e vaga. Entrega-se.
Por
um instante a água tinge, empalidece, faz-se morena
e mansamente
murmura, vem.
Ó
tortura de ser presa do tempo e da natureza!
A onda recua devagar, docemente, ainda a segurar-lhe a veste, vem.
Mas
as areias são das praias como as conchas são do mar
esperam
vaga que as devolva.
Por
mistérios casuais e delíquios insondáveis
Todos
os anos os elementos embevecem fiéis,
matam
saudade e gozam do aquoso solstício.
Benditos sejam!
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