terça-feira, 21 de junho de 2016

Solstício de Verão

No amanhecer do verão
A humidade da maresia pulsa como um mistério
Ondas meninas de beija pés trouxeram
conchas e búzios de maré vaza
que adormecem, lânguidos, na saia de areia.
Tácteis, as ondas de mil dedos rodeiam-na a toda a volta
refazem-lhe o remate rendado
esmeram a filigrana de espuma
aqui uma frioleira, ali um pico de bilros
lá atrás um abraço de remoinho em arte veneziana.
Fora de ser si mesma,
sem densidade, a areia rodopia etérea e vaga. Entrega-se.
Por um instante a água tinge, empalidece, faz-se morena
e mansamente murmura, vem.
Ó tortura de ser presa do tempo e da natureza!
A onda recua devagar, docemente, ainda a segurar-lhe a veste, vem.
Mas as areias são das praias como as conchas são do mar
esperam vaga que as devolva.
Por mistérios casuais e delíquios insondáveis
Todos os anos os elementos embevecem fiéis,
matam saudade e gozam do aquoso solstício.

                                                                                  Benditos sejam!

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