sábado, 25 de novembro de 2017

De Pequenino....

                 Muito se fala sobre a igualdade entre os sexos e o fim da discriminação feminina. De, como quase toda a gente aceita  - ainda há quem viva na idade da pedra e faça gala na prepotência -, homens e mulheres serem iguais em direitos e deveres, embora diferentes na sua anatomia e particularidades de género. Mas afirmar a aceitação não é igual a proceder em conformidade. Quer isto dizer que muito há a fazer. De vez em quando, soa um gongo nos jornais: as actrizes de Hollywood queixam-se de que os homens recebem um cachet muito superior ao seu. E nós pasmamos, então até nos USA o costume se mantém?! Ou, como há pouco tempo, vêm queixar-se de produtores sem escrúpulos que as assediaram e exigiram favores sexuais em troca de papeis e pedacinhos de fama. E nós todos a condená-los, a julgá-los uns imorais. Congratulo-me por mulheres conhecidas em todo o mundo terem tido a coragem de os apontar e revelar a peçonha que escondem. Mas pergunto-me por que esperaram tanto ano. Têm razão, pois claro. Mas a queixa e a condenação perde força quando soa assim ao retardador. À época, eram jovens desconhecidas e sem tarimba, não o conseguiam fazer: por vergonha, por necessidade, porque ninguém as ouviria, por medo de represálias. Mas precisavam esperar tanto ano?! Além disso, sou forçada a reconhecer: escândalos deste teor não mudam mentalidades. Escandalizam. São notícia. Maldiz-se o indivíduo em causa. Ostraciza-se. Fazem-se cair do pedestal alguns homens. Concretizam-se vinganças. O mundo digital explode, somos todos pela moral e igualdade de género se não dá trabalho e é só dizer ámem. E tudo passa.
Acontece que a desigualdade começa na forma como somos educados. E, desculpem-me todos os ministros de Portugal e mais todos os secretários e secretárias da educação, mas nenhum fez a coisa como deveria. Supõe-se que a teoria leva à prática. O que não é verdade. Como atrás referi, há um fosso aberto entre dizer e fazer. Portanto, meus senhores, estes preconceitos só têm uma forma para desaparecer, agir sobre eles. É o que fazem as sociedades nórdicas, muito mais avançadas que nós na igualdade de género. Aprende-se em família? Sim, também. Mas está institucionalizada nas escolas, faz parte da educação dos jovens.
Na Suécia, por exemplo, em vez das teorias da batata que pululam por aí e não levam a lado nenhum, todos os jovens entre os onze e os dezassete anos têm aulas de, digamos, economia doméstica, que contam para avaliação e incluem trabalho de casa e tudo (os tais TPC com que muita gente não concorda, mas eles fazem). Aprendem a organizar-se em casa. Por exemplo, têm aulas práticas de culinária e confeccionam refeições, aprendem o valor calórico dos alimentos e a sua gestão económica – o que é mais caro e mais barato e os componentes nutricionais. E depois almoçam ou lancham o que confeccionam.  Mas não se pense que ficam por aqui. Nestas aulas, aprendem a funcionar com os electrodomésticos: máquinas de loiça, de roupa, aspiradores e o mais. Aprendem ainda a lavar a loiça manualmente e quais os detergentes e formas de lavar cada peça, das mais às menos sujas. Aprendem rudimentos de carpintaria, a coser botões e fazer bainhas, a passar a ferro e tricotar. E isto, meus senhores, não é o antigo Curso de Formação Feminina, é uma disciplina com avaliação e comum a todos os alunos, escalonada por graus de dificuldade em cada ano. Portanto, à beira dos dezoito, não há jovem que não saiba como fazer as tarefas domésticas. E a nenhum passa pela cabeça, suponho eu, dizer como é tão vezeiro em Portugal, isso é trabalho de mulheres.

Vendo bem, não há razão para tal desigualdade na distribuição de tarefas. Se no mundo exterior as mulheres trabalham como os homens, ganham o sustento como eles - algumas até mais que eles -, qual o motivo de, dentro de portas, ser ela a trabalhar, ou, em situação mais benévola, ele a “dar uma ajuda” como se lhe fizesse um favor?! Todos somos humanos, temos um corpo com dois braços e duas pernas, uma mente pensante e mais o que falta. Também não consta que as diferenças anatómicas entre os dois sexos tornem alguém menos apto para este tipo de tarefas (diria mesmo que elas nem contam). Haverá quem, devido a características pessoais, seja menos hábil a realizar uma ou outra, mas não podemos atribuir  “a culpa” ao género a que pertence. Conclusão: parece-me que, se os jovens forem institucionalmente educados no exercício prático das tarefas caseiras, não há como fugir à igualdade de género, pelo menos no campo da economia doméstica onde tanta mulher portuguesa vai morrendo à hora. Mas será que essa igualdade interessa?!

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