domingo, 3 de fevereiro de 2013

Lincoln


Persigo Daniel Day Lewis. Espio-o por bem. Admiro-lhe o génio desde que, completamente por acaso – um bom acaso - o vi em My Left Foot. E tudo dele me aumentou, no filme que procurei a seguir, In The Name of The Father. Depois, assisti ao truculento Bill Cutting de Gangs of New York.
E rendi-me ao talento.

Filme de 2012 
Nenhum dos seus desempenhos é esquecível. E digo-o com alguma propriedade porque se me apagou completamente o enredo de Gangs of New York, mas a figura de malvado que criou, entre o gótico e o humor negro, permanece. Se num filme, os realizadores que me desculpem, Daniel Day Lewis é gene dominante em tal rigor que o resto eclipsa parcialmente. 
E agora, Lincoln.
Penso no que me faz correr para este actor. E concluo, sem originalidade, que é o seu despojamento. Isso mesmo. Que só me parece possível à custa de sofrimentos, tensões, e intensidade dolorosa do personagem. Como se Daniel Day Lewis desista em cada filme de estar e se levante alguém outro, de carne e osso, com tiques, modo de falar e andar próprios. Esta ideia vem-me talvez de me ligar à importância dos pormenores. O certo é que, se o comparo com outros atores e colegas de ofício, o distingo. Tenho pelas mãos de Meryl Streep um fascínio antigo, são emotivas mãos falantes. Contudo, em todos os filmes as mãos dela repetem pequenos gestos maquinais e que conheço, por exemplo, o gesto de alisar o cabelo a acomodá-lo atrás da orelha. Ora Lincoln, todos o sabemos, não é um cume como, por exemplo, My Left Foot. Mas é um extraordinário retrato. Onde não encontro Daniel Day Lewis ele mesmo.
Claro que a História também interessa. Trata-se de uma América sangrada e de um presidente cansado e em luta pela paz que, bem o sabe, exige a aprovação da 13ª emenda à constituição americana. É o princípio da concretização de uma ideia: o fim da escravatura. E a luta entre democratas e republicanos.
Mas o filme vive da humanidade de Lincoln. E nela existem o contributo do realizador e o do actor, a secundar-se. Ora, em toda a história, a vulnerabilidade do presidente sente-se-lhe na expressão do rosto, na voz arrastada e no andar curvado de velho prematuro, tão comum em pessoas muito altas. E é nessa humanidade tão gratamente inventada que o génio do actor exulta. Spielberg, por seu lado, dá-nos as relações de proximidade, um bom pai, um bom marido, um chefe que se mistura e está presente em locais inesperados e comuns, que tem vocação de contador de histórias e a bonomia recta que lhe grangeia popularidade e nos torna simpáticos os republicanos.
Fulgurante Lincoln este.

2 comentários:

  1. Para os apreciadores aqui fica um "cheirinho" do talento deste grande actor: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=j1kAsDx-aLc

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  2. Muito obrigada pela achega. Já estive a ver e reparei que me falta ver ainda alguma coisa importante da sua filmografia. Tenho que tratar de resolver este problema :)

    Um abraço de obrigada

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