Maduramente
pensei na questão. E sobre ela
anoiteceu e a madrugada sorrateira engenhou um dia de sol anémico, cheio de receios e
adeuses de vou-me embora e não sei quando volto. E depois anoiteceu outra vez e do breu nos veio um dia que abriu em chuva, feito bebé com marca de água e passinho cinzento, muito
dado à melancolia e reflexão. E nós, que horas serão isto, ai que falta me faz
o sol, desoriento com o dia, quem sabe
se anoitece e inda não almocei. Coisas assim que surgem ao espírito que
desocupa de maiores males.
Portanto - é proibido fingir -, ainda não descobri se vale a pena fazer propósitos que depois
se esquecem. Tudo acena que não. Mas este é só um ângulo de visão e ordenamento.
Vamos virar a realidade de outro lado, só para ver no que dá. Sim, porque a
mania que temos de atingir objectivos e chegar a um fim determinado, faz-nos
esquecer o caminho. E no entanto conhecemo-nos como “seres a caminho”. Somos
largados na vida e, mesmo sem nos movermos, ficamos caminhantes. Vou pois virar
a pergunta – ok, é mais favorável ao meu ego, mas já disse que para o
masoquismo dou por obrigação e nunca de vontade -, assumir a importância do caminho e investigar, por exemplo, se, em algum momento, fazer
propósitos me mudou o comportamento. Ora aí
está. Mudou. Muda sempre. Enquanto não me esqueço deles até cumpro (ainda que
agora, neste preciso momento, não me lembre). Cumpro um mês? Cumpro dois? Não
sei, mas tenho certeza que cumpro durante algum tempo e alguma coisa deve
surdir. Porque cumpro de boa mente, com ganas de continuar até ao dito fim.
Só que depois mete-se uma doença, um trabalho extra, um problema imprevisto e
tudo se me varre da memória cuja empreende noutras paisagens. Sem inversões ou marchas atrás.
Eh
lá. Não pensem que estou a fazer-me inocente. Nada disso. Mas a verdade é que a
culpa também não me pesa. Enfim, será da minha natureza habitar este limbo de
intenções e fins. Estou um bocadinho inclinada para isso. Mas, lá está, pode
não passar de desculpa para a falta de perseverança em que navego.
Provavelmente, já gastei a perseverança toda que tinha. Que, podem não acreditar, mas já fui perseverante qb. Logo, também me inclino para me ter despovoado dela.
Mas é que 2017 já me amanheceu com ranço, tinhoso, e a ilusão dos propósitos não rima com anos terminados em sete.
O que eu gostava de saber se esta fraqueza de
carácter me altera a visão e é toda velhice....
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