E.
Portanto. Passagem de ano a dormir. Não se ericem as hostes, calma, não vou
dormir todo o ano. Mas entrei em 2017 com a mente desanuviada, no relax. É
certo, ajudei o sono a chegar. Que
súbitos azares da natureza me acompanham e o arredam de mim. Andei por ele, ó
tio, ó tio, e porque o chamo em alta voz tão pouquíssima vez (ou por ser a data
que era), veio correndo e enleou-se-me de modo e maneira a escapar-me o
completo do arraial. De modos que, se no dia seguinte não espreito a janela da
tv, julgaria que nada houve. A acreditar na minha bisavó, digo que são tudo
filmes, patranhas inventadas pelos homens para nos entreter e fazer crer que
estão onde não estão. Passagem de ano na Austrália?! Que nada. Rio de Janeiro?!
Aldrabice. Alemanha?! Mentira pura. Madeira?! Engano certo. Filme. Tudo filme. Aquela
gentinha toda, uma data de actores pagos. Era assim que a minha ancestral
resolvia os mistérios daquela caixinha estrambólica.
Portanto,
posso pensar como ela, elidir o resto do mundo, dizer que ninguém o sabe senão
pelo imaginário e só os filmes existem. A desconfiança da minha bisa com a TV era
grandiosa, mas defendia-a firme e convicta, como se verdade segura. Suponho que
se iludia na esperança de que alguém lhe pegasse na ideia e a trouxesse ao colo
para a ribalta. Mas a minha bisa não sabia ler, tinha os dedos tortos de tanto
trabalho pesado e ainda assim não os deixava desocupar. Por outro lado, ninguém lhe desenvolveu o escrúpulo. Morreu descrente das viagens à lua ou das
notícias do estrangeiro que supunha existir tão longe que nenhum repórter lá
chegaria.
Se
talvez eu pudesse ainda ser como ela...mas não. E 2017 está aí, repleto de dias
com muita hora, pronto a desfazer equívocos mundiais. Ou adensá-los. Veremos.
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