segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Passagem de Ano, Eu e a Bisa

E. Portanto. Passagem de ano a dormir. Não se ericem as hostes, calma, não vou dormir todo o ano. Mas entrei em 2017 com a mente desanuviada, no relax. É certo,  ajudei o sono a chegar. Que súbitos azares da natureza me acompanham e o arredam de mim. Andei por ele, ó tio, ó tio, e porque o chamo em alta voz tão pouquíssima vez (ou por ser a data que era), veio correndo e enleou-se-me de modo e maneira a escapar-me o completo do arraial. De modos que, se no dia seguinte não espreito a janela da tv, julgaria que nada houve. A acreditar na minha bisavó, digo que são tudo filmes, patranhas inventadas pelos homens para nos entreter e fazer crer que estão onde não estão. Passagem de ano na Austrália?! Que nada. Rio de Janeiro?! Aldrabice. Alemanha?! Mentira pura. Madeira?! Engano certo. Filme. Tudo filme. Aquela gentinha toda, uma data de actores pagos. Era assim que a minha ancestral resolvia os mistérios daquela caixinha estrambólica.
Portanto, posso pensar como ela, elidir o resto do mundo, dizer que ninguém o sabe senão pelo imaginário e só os filmes existem. A desconfiança da minha bisa com a TV era grandiosa, mas defendia-a firme e convicta, como se verdade segura. Suponho que se iludia na esperança de que alguém lhe pegasse na ideia e a trouxesse ao colo para a ribalta. Mas a minha bisa não sabia ler, tinha os dedos tortos de tanto trabalho pesado e ainda assim não os deixava desocupar. Por outro lado,  ninguém lhe desenvolveu o escrúpulo.  Morreu descrente das viagens à lua ou das notícias do estrangeiro que supunha existir tão longe que nenhum repórter lá chegaria.

Se talvez eu pudesse ainda ser como ela...mas não. E 2017 está aí, repleto de dias com muita hora, pronto a desfazer equívocos mundiais. Ou adensá-los. Veremos. 

Sem comentários:

Enviar um comentário