Há
dias assim, a gente acorda e a baça vida não apetece. Passamos a limpo os compromissos
e não há coisa para abraçar. Sabemos das flores, do sol, do mar, da música. Mas
é tudo demasia. Distante. Lá. E nós aqui, na lassidão comprida de zeros
cronométricos.
Erguemo-nos.
Exactos de sorriso. Iguais. O alimento dos olhos falha na janela e nem o pequeno
almoço nos agarra. No relógio, o dia corre a sua indiferença e o corpo
multiplica-se em aventuras de autómato.
De
súbito, eles entram no olhar. A todo o pano. Sentados lado a lado,
num tête-a-tête cúmplice. Semeiam à flor da pele entremeios de ternura desvalida, autenticidades carinhosas e originárias. Evolam um excesso de princípio tão antigo que comove. A intemporalidade poética transparece, dói nos
olhos e dilata no coração. Depois saem. Imersos. Semiconscientes de mundo. E deixam na
memória o raro odor de amor feliz. E a alma da gente feita girassol.
Sem comentários:
Enviar um comentário