quarta-feira, 22 de março de 2017

Dias de Assim


Há dias assim, a gente acorda e a baça vida não apetece. Passamos a limpo os compromissos e não há coisa para abraçar. Sabemos das flores, do sol, do mar, da música. Mas é tudo demasia. Distante. Lá. E nós aqui, na lassidão comprida de zeros cronométricos.
Erguemo-nos. Exactos de sorriso. Iguais. O alimento dos olhos falha na janela e nem o pequeno almoço nos agarra. No relógio, o dia corre a sua indiferença e o corpo multiplica-se em aventuras de autómato.

De súbito, eles entram no olhar. A todo o pano. Sentados lado a lado, num tête-a-tête cúmplice. Semeiam à flor da pele entremeios de ternura desvalida, autenticidades carinhosas e originárias. Evolam um excesso de princípio tão antigo que comove. A intemporalidade poética transparece, dói nos olhos e dilata no coração. Depois saem. Imersos. Semiconscientes de mundo. E deixam na memória o raro odor de amor feliz. E a alma da gente feita girassol.

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