domingo, 25 de junho de 2017

Olívia 

Pensei que este ano ia ver-te e correr aquela estrada de planície sem fim. A esmo, desde a berma, flores e pastos arrepiando um bom dia na deslocação do ar, montados do sem fim a arregalar para o carro, aqui e ali, uma vara de focinho no chão a catar bolota. De outras vezes, bovinos pachorrentos, sem pressa de nenhum lugar, alguns apenas um vulto semi deitado, que nem se sabe de que descansa gado tão pouco dado a pressas. E a terra plana, a desenrolar em cada linha de horizonte, vizinha de céu tão baixo.  Lá ao fundo, sem escadote, azinheiras tocam o azul ao alcance da mão. Depois, sempre a fazer-me próxima de ti, contornar a igreja de barras certas que guarda a largura de árvores em quadrado seguro e chão escaldado a soalheiras. Ali, pesa a desocupação dos homens, olhos piscos em fresta, a seguir o movimento à revessa de bonés e chapéus. E seguir em frente, em frente. Passar o sítio onde os namoros se deslocam e atiram pedras a adivinhar longevidades. Como se uma pedrinha no cimo de um esfíngico pedregulho faça diferença ao sentimento. Mas o chão solado. Serão bastantes, os amores passageiros. Ou o par segue consolado da sua perenidade e logo o vento atira um punhado de pedrisco ao chão.  E fica a gente sem saber onde a razão, se no vento que as tomba, se na pontaria que as equilibra. Que, na vida, como em tudo, a pontaria faz muita falta. Pergunto-me se algum dia, tu. Se uma hora, tu. Se o teu coração ansiou ou quis experimentar. Mas falta-me coragem para te desvendar os votos lançados acima daquela enormidade de rocha que guarda a suposta eternidade amorosa. Ou talvez seja apenas bom senso, o teu passado vem ter comigo.  Ou não. Para nós duas, é de pouco interesse.  
No ano transacto, decidira, finalmente, que não me valias o caminho. Por qualquer ninharia me preterias; o peso que tínhamos uma na outra não se equivalia, éramos(somos) dois pratos desiguais na mesma balança. Um desgosto, Olívia. Coisa de memória a repensar.
Porém, inesperada, voltaste por teu pé, isenta das minhas aguilhoadas. E fiquei tão contente como o pai do filho pródigo. Festejei. De imediato, pensei na visita deste ano. Que parece não acontecer. Porque te repetes. Ligo-te e impedes-me a visita porque obras, pinturas, catequeses em términus de festa, ninharias palermas a que o meu coração não dá bola. Foi nefasto, acredita. Afinal, continuamos dois pratos em demasia desigual. Ficaste de ligar. Depois. Quando. E nem sei se.  Neste repensar do que somos e que a ti não incomoda, talvez eu tenha de alinhar contigo, alijar peso, tornar-me leveza de superfície. Viver uma amizade de raiz à flor da terra, se é que tal coisa exista e eu a consiga. Digerir, definitivamente, o facto de não seres quem te pensei.

Um dia hás-de ligar-me. Ou não. E fica a memória de Évora, as ruas de pedras a subir e a descer, os arcos da Praça do Giraldo, O café Arcada onde só estivemos uma vez submersas na vozearia de gente em rigor de capotes e chapéus alentejanos, a rua do Convento Novo agora fechado, a Porta na muralha de que já nem lembro o nome, os moinhos de S. Bento onde nunca fomos. Então,  havia os testes, as notas, o estágio que tanto nos preocupava. É lá que estamos e somos incólumes.

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