domingo, 4 de maio de 2014

Dia da Mãe

Hoje é Dia da Mãe. Um dia que partilhamos. As duas. Vamos almoçar todos  e tu vens. A meu lado. Sorrindo. Sem cabelos brancos, com aquela trança comprida que levantavas ao alto e agora se usa de novo; está na moda o teu penteado, mãe. Trazes ao pescoço o fio de ouro com a fotografia do pai; nunca gostei dele, mas não o retiravas apesar dos meus instantes pedidos. Eu decretava que os homens faziam isso - dar um fio de ouro com a sua fotografia -  para demarcar território, o amor, alheio à oferta. Mas usaste-o sempre, desde o dia em que te foi dado, e nem sequer retorquias à minha revolta. Também não sei o que pensavas do assunto, nunca te manifestaste. E hoje, vê tu, não me faz dano que o uses.
Mandei-te pôr os dentes da frente no maxilar superior, encaixam com uns araminhos que mal se vêem e tu contente por poderes dar dentadas nas maçãs. Deve ter sido por isso que, finalmente, deixei de sonhar que me caem sem quê nem porquê, tão brancos e sem mácula e a cair, os palermas. Sabes, aquela tua ida ao dentista deixou marca, as coisas que nos ficam. As minhas, esqueço-as no imediato. Mas essa tua, impossível. Não falamos sobre isso, porém, estou certa que também a lembras. Nem sei o que mais me doeu, se a visão do sangue, se aquela mulher que te segurava a cabeça enquanto eu chorava desabalada, se a tua tristeza de lágrimas no regresso a casa. Não voltaste a ser a mesma. Nunca mais.
Fiz-te uma écharpe em tricot. Dei-ta logo pela manhã e tu puseste-a pelas costas sem te importares se rimava ou não com o vestido. E os teus olhos a brilhar, tão bonitos! A luz do amor é toda outra. Tão bonito o teu abraço. Tão bonito como o jeito que tu tens para usar écharpes que me caem desajeitadas para tudo quanto é lado. Em ti não, tu tens ombros e porte de écharpe. Não te contei, mas andei na net que tempos, a aprender esse tricot rendado para te fazer surpresa.
Estamos juntas para o que der e vier. Logo mais, os meus irmãos vão trazer-te outras prendas, mimar-te. Mas o nosso momento dorme eterno nas tuas mãos a abrir a écharpe e moldá-la aos ombros, o olhar de agrado a rodar o espelho.
Dormes assim no meu sonho, Mãe. De écharpe.

Um beijinho

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