De
súbito, um condutor solitário passou perto, lentamente. Em inspiração repentina,
saltei para o rebordo traseiro do carro dele e agarrei o pau comprido que faz o
contacto eléctrico na rede sobre a pista. O jovem não se apercebeu da minha acrobacia e
fiz bem umas duas voltas naquele esterlaio, desejando que se abeirasse das
passadeiras laterais, os meus folhos cor-de-rosa todos empolados, calculo que o
cabelo a ir para trás e possivelmente uma data de gente a pensar, o que é que
aquela maluca anda a fazer santo Deus, há cada uma…. Eu, atrapalhadíssima,
continuava ali, de pé que nem bandeira inusitada, sem saber que fazer. E, de
repente, os meus amigos passam por mim, vêem-me naquela figura e caem na risota
de tal forma que enfileiram com uma data de carros (castigo divino, sem dúvida).
Aí eu acordei para a realidade e, com conhecimento de causa sobre choques
desamparados, saltei para dentro do carro: uma perna, depois outra e pumba,
sentei-me. Impecável. Olhei o meu companheiro, lindo, muito aprumado. Era
Setembro e os meus folhos subiram talvez demais, mas nem pensei no bronzeado a
destapar. Apenas mirei o meu abismado companheiro a quem, a meio de uma volta,
caiu uma rapariga cor-de-rosa no assento do lado. Por sobre o chinfrim,
enveredei por afogueada explicação, avançando que vinha agarrada ao varão já há
duas voltas e era melhor sentar-me antes que um maluco qualquer se
entusiasmasse a fazer-me cair. Se ele riu foi para dentro, porque me fitou
atento e breve e logo se quedou compenetrado na condução. Guiou tão mas tão bem
que não chocámos uma única vez e me pareceu até caminho de estrada, sem cheiros
que detesto, as buzinas de repente longe, a milhas de nós. Voltei a
agradecer-lhe no final da corrida e segui para junto dos meus amigos que,
feitos parvalhões, riam a bandeiras
despregadas. À conta deste episódio, ainda hoje oiço troças descabidas. Abandonaram-me
à sorte e não se coíbem de piadas brejeiras. Ó injusta e cruel mente juvenil
que ainda neles estrebucha.
Não
voltei a encontrar aquele rapaz que bem se podia chamar Salvador. Não
perguntámos nomes e desaparecemos um ao outro. Mas é indubitável: ficou em
ambos este comum assimétrico, esquisito lendo-se o u. Engraçado, vá.
Sem comentários:
Enviar um comentário