Quando vou ao cinema, as fitas “a estrear
brevemente” aguçam-me a curiosidade. Observo os excertos de filme considerando
que poderei, eventualmente, vir a assistir um mais veemente, que me acerte.
Acresce que vê-los me orienta acerca da cinefilia, preferências do público,
preocupações de realizadores, actores e actrizes do momento. Há apresentações
que me suscitam verdadeira pena, antevendo não poder ver a película. E outras cuja
mediocridade me embaraça. Não que goste apenas de filmes profundos. Os filmes,
como os livros, têm dias e horas. São matéria que merece e deve respeito. Porém, em
ambos os casos há exemplares irrisórios, perda de tempo do leitor e do amante
de cinema. Mas há filmes leves e de qualidade, bons para ver à sexta à noite e
sempre que uma pessoa entristece ou derruba de cansaço e lhe apetece vegetar
pela imagem.
Neste ínterim do que vem a seguir,
calhou-me ver a apresentação de “Viver depois de ti”. Título romântico para
tema tétrico: um muito apresentável e jovem tetraplégico que quer morrer. Bom,
mas tem por assistente na doença uma garota extraordinária de bonita, portadora de
boa disposição a todo o pano e que talvez lhe dê a volta (interessa manter
acesa a curiosidade e levar o público às salas). Julguei o filme interessante
por fugir à realidade da deficiência. Quiçá seja uma historinha mesmo
romântica e meio lamecha, que, ainda que termine em morte, é um hino à vida – a garota é
esfusiante. Decidida a vê-lo, fui procurar a data de estreia (só dia 11, que
pena). E encontro na net que o filme, mesmo antes de estrear, já está envolto em
polémica. Ora bolas. E porquê?! Ora, por um sem número de motivos: o actor é
saudável e não é convincente, o tratamento do tema é demasiado leve, a ideia de
querer morrer é um mau exemplo para outros tetraplégicos e doentes em geral…argumenta-se
que os tetraplégicos são um exemplo de esforço e deviam ser mais apoiados e
darem-lhes condições de saúde mais amplas…e um vendaval de razões deste e
daquele, uns que são tetraplégicos e outros só simpatizantes.
Os argumentos têm peso e valem. Mas, ó
gente, isto é um filme. Quem é que disse que os filmes têm de ser reais?!
Contudo, há filmes para todos os gostos. Mais e menos fiéis à realidade. E, sobre a decisão de morte dos tetraplégicos, há visões bem diversas; é só
procurar. Ora esta, deixem-me ver o filme tal como está, se faz favor, foi assim mesmo que ele me agradou. Sem o peso de “Mar adentro”. E de outros.
Com gente que consegue ser alegre e sonhar mesmo sem se mexer. É ficção. Pois
muito bem. Há quem ande farto de realidade, venha a ficção. Não é moralizante?
Paciência. Querem moral a sério, estudem o catecismo, ainda que ele tenha mais
religião que outra coisa, já aviso.
No entanto, houve algo que li e ainda remoo. Se todos nós, saudáveis medianos, em algum momento - em vários - já desejámos morrer, ou pelo menos não nos importávamos,
por que diabo um tetraplégico não o pode desejar? Tem por acaso uma vida assim
tão boa?! Acho mesmo a coisa mais natural dado o estado em que se encontra. Se
existe quem o não deseje, óptimo para ele. Mas quem somos nós para obrigar
alguém a manter um padecimento de tal natureza?!
Uma das coisas que me irrita nos americanos
é esta ridícula veia moralizante que esquece as guerras que inventam e começam
por seu único interesse ou porque lhes dá na veneta. Decidem e destroem países,
milhões de vidas que depois abandonam em condições calamitosas e insustentáveis.
E desatam a criticar um filme. Armam em mete nojo a negar o direito que cada um
tem a decidir sobre a sua vida quando ela deixa de o ser. Há cada uma.
Bom. Este bruaá também pode ser uma
propaganda bem montada. Tudo é possível.
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