E
eu, que não sou pascoalina, dei por mim com pena e saudade deste homem que me
merece respeito. Por ser uma lástima aquele colóquio onde pretensamente ele
seria dito e grande. E afinal não cresceu e foi pequeno. E até me parece que o
não retiraram dos cueiros. Pois foi ali, no meio daquele colóquio, que criei um antagonismo periférico em direcção
a Pinheiranda Gomes acerca de quem os meus professores clamavam, façam tudo
excepto lê-lo. Fugi-lhe na juventude e
caiu-me no colo naquela hora. Ora esta. O homem já mal se entende, ou estaria
afónico que a idade não dá para tanto. Mas ainda o move a linguagem da culpa e
do pecado. Abençoado. Não debota nem nada.
O problema do colóquio nem foi a velhice física. Os calos mentais e a vaidade
em livre curso é que se imiscuíram.
Desde a moderadora-comissária que acenava e sorria a todos os dizeres -
era uma garota ainda verdurenga e airosa, mas nos trejeitos de cabeça parecia a
miss piggy só que mais esguedelhada e receio bem que se tenha confundido e
montado o seu private muppet show.
Pois esta jeune fille interrompia
lestamente fosse quem fosse para meter colherada e botar faladura. Observou-se
que deixou um ou outro orador com hábito de colóquios a sério, a interrogar-se
sobre abandonar a mesa. E que logo reassumiu o papel com alguns elogios imerecidos
à abrupta interrupção. Quiçá compunha o ramo que ela desfazia de vez em quando
para perplexidade da assistência; ou, por via da efeméride, vestia cavalheirismo pascoalino.
E
depois havia a família que afinal fora convidada para estar, mas nada disse.
Além de uma sobrinha-neta, senhora muito nervosa que levava o tempo a ir fumar
para o exterior e vive na quinta de Gatão, não nos descobrimos uns aos outros. E um artista plástico e caquético a contar pretensas
graciosidades na casa de Gatão, e nem de Teixeira de Pascoaes, mas do irmão e do pintor D’Assunção. E o nosso Teixeira por ali à espera que o Pascoaes desse entrada. E Nada. Nada de quase
nada. Que pena.
Mas
amei que o senhor presidente da
Câmara de Amarante tenha trazido o pessoal das secundárias até Lisboa,
professores e alunos. Imagino que os garotos se tenham passeado o dia todo pela
novidade lisboeta, e essa ideia que pode bem ser falsa, viceja e faz-me alegre. Lindos de morrer, aqueles
garotos. E consolou-me estar assim no meio deles, a comer os milagrosos bolos
de Amarante. Esqueci Pascoaes que a passar por ali foi de raspão, e deliciei.
Literalmente. Procurei a companhia dos motoristas dos autocarros que estavam
numa mesa dos fundos e pouco davam nas vistas, pedi-lhes uma opinião ou outra e
resolvi seguir o conselho do mais novo, hoje é para a desgraça, a senhora
ataque aí esse pastel que gosta à confiança. Armada em pote de
marmelada, voguei entre a garotagem, um sentimento pascoalino e saudoso a
invadir-me a alma até ao cucuruto. O lanche foi regalo do autarca de Amarante para os lisboetas presentes. E o senhor foi supremo na parte que lhe coube. Não exibicionista. Simpático. Disponível. Vem a Lisboa num rufo de horas e desce com prazer. Os lisboetas, lamentou, usam outra medida e julgam Amarante a grande distância.
Amarante marcou pontos na minha consideração. A verdade é que pensei ir cumprimentar aquele dinamismo actuante que disponibilizou materiais, os carregou, trouxe gente à exposição e ainda serviu uma refeição. Agradecer-lhe. Mas não fui. E devia. Os elogios com merecimento são dever do elogiador. Ainda mais quando se sabe em dívida. Às vezes sou um bocadinho para o parvo, pronto.
Amarante marcou pontos na minha consideração. A verdade é que pensei ir cumprimentar aquele dinamismo actuante que disponibilizou materiais, os carregou, trouxe gente à exposição e ainda serviu uma refeição. Agradecer-lhe. Mas não fui. E devia. Os elogios com merecimento são dever do elogiador. Ainda mais quando se sabe em dívida. Às vezes sou um bocadinho para o parvo, pronto.
Pelo caminho, logo após o colóquio, alguma coisa de valor para amenizar: o grupo
coral de Sintra (não tenho certeza se era de Sintra) que cantou divinamente e
estreou um poema de Pascoaes no seu repertório. A estes não esqueci de elogiar
e agradecer. Haja Deus. E momentos destes a regar-me o pé.
Há
sempre alguém que faz falta...há...saudade (não fica bem com Pascoaes?)
Belo retrato de cultura bafienta! Concordo consigo: Pascoaes merecia mais. Salvem-se os pastelinhos, esses são autênticos e degustam-se! Gosto de saber que continua o seu périplo cultural e dele nos dá nota! Não comento muito (não sou íntima das palavras) mas sou visitante assídua deste blogue. É um gosto visitá-lo. Continue!!!
ResponderEliminarCaríssima(o) anónima(o)
ResponderEliminarInfelizmente Portugal está um tanto carregado de bafio. Ou será dos óculos com que o vejo eu. Ou dos olhos.
A sua visita à minha humilde casa é um prazer. Volte sempre.