sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Pascoaes na Biblioteca Nacional

E eu, que não sou pascoalina, dei por mim com pena e saudade deste homem que me merece respeito. Por ser uma lástima aquele colóquio onde pretensamente ele seria dito e grande. E afinal não cresceu e foi pequeno. E até me parece que o não retiraram dos cueiros. Pois foi ali, no meio daquele colóquio, que  criei um antagonismo periférico em direcção a Pinheiranda Gomes acerca de quem os meus professores clamavam, façam tudo excepto lê-lo.  Fugi-lhe na juventude e caiu-me no colo naquela hora. Ora esta. O homem já mal se entende, ou estaria afónico que a idade não dá para tanto. Mas ainda o move a linguagem da culpa e do pecado. Abençoado. Não debota nem nada.
O problema do colóquio nem foi a velhice física. Os calos mentais e a vaidade em livre curso é que  se imiscuíram. Desde a moderadora-comissária que acenava e sorria a todos os dizeres - era uma garota ainda verdurenga e airosa, mas nos trejeitos de cabeça parecia a miss piggy só que mais esguedelhada e receio bem que se tenha confundido e montado o seu private muppet show. Pois esta jeune fille interrompia lestamente fosse quem fosse para meter colherada e botar faladura. Observou-se que deixou um ou outro orador com hábito de colóquios a sério, a interrogar-se sobre abandonar a mesa. E que logo reassumiu o papel com alguns elogios imerecidos à abrupta interrupção. Quiçá compunha o ramo que ela desfazia de vez em quando para perplexidade da assistência; ou, por via da efeméride, vestia cavalheirismo pascoalino.
E depois havia a família que afinal fora convidada para estar, mas nada disse. Além de uma sobrinha-neta, senhora muito nervosa que levava o tempo a ir fumar para o exterior e vive na quinta de Gatão, não nos descobrimos uns aos outros.  E um artista plástico e caquético a contar pretensas graciosidades na casa de Gatão, e nem de Teixeira de Pascoaes, mas do irmão e do pintor D’Assunção. E o nosso Teixeira por ali à espera que o Pascoaes desse entrada. E Nada. Nada de quase nada. Que pena.
Mas amei que o senhor presidente da Câmara de Amarante tenha trazido o pessoal das secundárias até Lisboa, professores e alunos. Imagino que os garotos se tenham passeado o dia todo pela novidade lisboeta, e essa ideia que pode bem ser falsa, viceja e  faz-me alegre. Lindos de morrer, aqueles garotos. E consolou-me estar assim no meio deles, a comer os milagrosos bolos de Amarante. Esqueci Pascoaes que a passar por ali foi de raspão, e deliciei. Literalmente. Procurei a companhia dos motoristas dos autocarros que estavam numa mesa dos fundos e pouco davam nas vistas, pedi-lhes uma opinião ou outra e resolvi seguir o conselho do mais novo, hoje é para a desgraça, a senhora ataque aí esse pastel que gosta à confiança. Armada em pote de marmelada, voguei entre a garotagem, um sentimento pascoalino e saudoso a invadir-me a alma até ao cucuruto. O lanche foi regalo do autarca de Amarante para os lisboetas presentes.  E o senhor foi supremo na parte que lhe coube. Não exibicionista. Simpático. Disponível. Vem a Lisboa num rufo de horas e desce com prazer.  Os lisboetas, lamentou,  usam outra medida e julgam Amarante a grande distância. 
Amarante marcou pontos na minha consideração. A verdade é que pensei ir cumprimentar aquele dinamismo actuante que disponibilizou materiais, os carregou, trouxe gente à exposição e ainda serviu uma refeição. Agradecer-lhe. Mas não fui. E devia. Os elogios com merecimento são dever do elogiador. Ainda mais quando se sabe em dívida. Às vezes sou um bocadinho para o parvo, pronto.
Pelo caminho, logo após o colóquio, alguma coisa de valor para amenizar: o grupo coral de Sintra (não tenho certeza se era de Sintra) que cantou divinamente e estreou um poema de Pascoaes no seu repertório. A estes não esqueci de elogiar e agradecer. Haja Deus. E momentos destes a regar-me o pé.


Há sempre alguém que faz falta...há...saudade (não fica bem com Pascoaes?)

2 comentários:

  1. Belo retrato de cultura bafienta! Concordo consigo: Pascoaes merecia mais. Salvem-se os pastelinhos, esses são autênticos e degustam-se! Gosto de saber que continua o seu périplo cultural e dele nos dá nota! Não comento muito (não sou íntima das palavras) mas sou visitante assídua deste blogue. É um gosto visitá-lo. Continue!!!

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  2. Caríssima(o) anónima(o)

    Infelizmente Portugal está um tanto carregado de bafio. Ou será dos óculos com que o vejo eu. Ou dos olhos.
    A sua visita à minha humilde casa é um prazer. Volte sempre.

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