E nesse interim,
avistam um barquito desgovernado que traz um morto e um bebé. E não precisamos
ser génios para adivinhar que não participam o achado e vão dar a criança como
sua – Isabel estava grávida e ninguém sabia do segundo aborto. A jovem está tão
infeliz e sedenta de um filho que o espectador quase agradece o achado e o macabro
de um homem morto com a criança. E os pruridos de Tom rebate-os ela como os rebatemos
nós. Depois, a vida devém-lhes completa e inteira. Os anos passam e a menina
cresce. Mas os erros nunca deixam de o ser e a memória não os apaga. É Tom quem,
numa viagem a terra, observa a viúva que perdeu marido e filha, se informa e
conclui: a sua filha é a filha daquela mulher. E somos levados a pensar se com
os bilhetes anónimos que lhe envia dizendo que a criança está viva e é bem
amada, quer apenas informá-la ou se deseja ser descoberto. Isabel nada sabe ou
intui enquanto a outra, filha de um potentado do lugar, sabendo que a filha
vive, move céu e terra até a encontrar. E a garota é retirada dos falsos pais e
levada à mãe verdadeira. Isabel junta ao
desgosto profundo a zanga com Tom que responsabiliza pela desgraça. Crucifica o
marido. O momento da separação de mãe e filha, como diriam os brasileiros, “ comove demais da conta”. Nenhuma entende ou
quer abdicar da outra. E é como se os sentimentos retirem idade e sejam duas
crianças presas do amor que as une. Na prisão, Tom iliba Isabel e assume a
culpa solitária. E o desfecho vai
depender de Isabel quando se apercebe que o marido pode ser condenado à morte
por haver a crença de que foi ele quem assassinou o pai da criança (o que não
aconteceu e só ela pode testemunhar). Depois do seu testemunho, tudo se
resolve, a mãe verdadeira (Rachel Weisz) desiste da queixa exigindo que jamais
se aproximem da filha e a lei obriga-os a mudar de cidade.
Com actores de
excepção e fotografia de espantosa delicadeza, o filme abusa de situações de melodrama.
Mas deixa-nos a pensar. E se fôssemos nós?! O que faría cada um em situação
idêntica, como procedia se desejásse com todas as forças um filho que se negava
a existir e lhe aparecesse, vinda assim do meio do mar, uma bebé. Não ia
parecer que o destino a enviara?! Ficaríamos a pensar na mãe que talvez nem
existisse? Na família que, a existir, por certo pensava que se afogara
juntamente com o pai?!...
Por outro lado, toda
a gente elogia o papel de Rachel Weisz a mãe natural que acolhe a filha e
depara com a sua estranheza relutante, ela já tem uma mãe e gosta dela, quer a sua casa no farol e o nome antigo. Talvez o problema seja meu que não
entendo uma mãe que, neste caso, quer a filha só para si; não entendo um amor
maternal que se constrói sobre os despojos de outra mulher e que, em parte, a
destrói; distancio-me de um amor que assiste ao desgosto lacrimoso da criança
até ao esquecimento que por certo é tardio, dado a ligação entre as duas - mãe e filha fictícias - ser muito forte; não
entendo a expiação de erros que proíbem contactos para todo o sempre; não
entendo por que razão uma criança não pode ter o amor de duas mães e por que teve
uma delas de sofrer até à morte tal separação dolorosa. Mas talvez eu esteja
apenas influenciada pela extraordinária interpretação de Alicia Vikander e por isso penda para quem errou.
Aconselho que vejam
o filme e ganhem as vossas próprias dúvidas e questões. Omiti o fim para haver
algum suspenseJ
E sejam felizes
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