quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

The Light Between Oceans

E nesse interim, avistam um barquito desgovernado que traz um morto e um bebé. E não precisamos ser génios para adivinhar que não participam o achado e vão dar a criança como sua – Isabel estava grávida e ninguém sabia do segundo aborto. A jovem está tão infeliz e sedenta de um filho que o espectador quase agradece o achado e o macabro de um homem morto com a criança. E os pruridos de Tom rebate-os ela como os rebatemos nós. Depois, a vida devém-lhes completa e inteira. Os anos passam e a menina cresce. Mas os erros nunca deixam de o ser e a memória não os apaga. É Tom quem, numa viagem a terra, observa a viúva que perdeu marido e filha, se informa e conclui: a sua filha é a filha daquela mulher. E somos levados a pensar se com os bilhetes anónimos que lhe envia dizendo que a criança está viva e é bem amada, quer apenas informá-la ou se deseja ser descoberto. Isabel nada sabe ou intui enquanto a outra, filha de um potentado do lugar, sabendo que a filha vive, move céu e terra até a encontrar. E a garota é retirada dos falsos pais e levada à mãe verdadeira.  Isabel junta ao desgosto profundo a zanga com Tom que responsabiliza pela desgraça. Crucifica o marido. O momento da separação de mãe e filha, como diriam os brasileiros,  “ comove demais da conta”. Nenhuma entende ou quer abdicar da outra. E é como se os sentimentos retirem idade e sejam duas crianças presas do amor que as une. Na prisão, Tom iliba Isabel e assume a culpa solitária.  E o desfecho vai depender de Isabel quando se apercebe que o marido pode ser condenado à morte por haver a crença de que foi ele quem assassinou o pai da criança (o que não aconteceu e só ela pode testemunhar). Depois do seu testemunho, tudo se resolve, a mãe verdadeira (Rachel Weisz) desiste da queixa exigindo que jamais se aproximem da filha e a lei obriga-os a mudar de cidade.
Com actores de excepção e fotografia de espantosa delicadeza, o filme abusa de situações de melodrama. Mas deixa-nos a pensar. E se fôssemos nós?! O que faría cada um em situação idêntica, como procedia se desejásse com todas as forças um filho que se negava a existir e lhe aparecesse, vinda assim do meio do mar, uma bebé. Não ia parecer que o destino a enviara?! Ficaríamos a pensar na mãe que talvez nem existisse? Na família que, a existir, por certo pensava que se afogara juntamente com o pai?!...
Por outro lado, toda a gente elogia o papel de Rachel Weisz a mãe natural que acolhe a filha e depara com a sua estranheza relutante, ela já tem uma mãe e gosta dela, quer a sua casa no farol e o nome antigo.  Talvez o problema seja meu que não entendo uma mãe que, neste caso, quer a filha só para si; não entendo um amor maternal que se constrói sobre os despojos de outra mulher e que, em parte, a destrói; distancio-me de um amor que assiste ao desgosto lacrimoso da criança até ao esquecimento que por certo é tardio, dado  a ligação entre as duas - mãe e filha fictícias - ser muito forte; não entendo a expiação de erros que proíbem contactos para todo o sempre; não entendo por que razão uma criança não pode ter o amor de duas mães e por que teve uma delas de sofrer até à morte tal separação dolorosa. Mas talvez eu esteja apenas influenciada pela extraordinária interpretação de Alicia Vikander e por isso penda para quem errou.
Aconselho que vejam o filme e ganhem as vossas próprias dúvidas e questões. Omiti o fim para haver algum suspenseJ

E sejam felizes

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