Gosto de Alicia
Vikander desde “The Danish Girl” (A rapariga da Dinamarca), e de Fassbender
depois de “12 years a slave” (12 anos escravo). Ambos possuem uma capacidade
notável para representar e envolver o espectador na transparência de
sentimentos que as situações exigem e até julgo que suplantam.
Quem não recorda a doce
e apaixonada Gerda que, contra si mesma, ajuda o marido - Eddie Redmayne - a
tornar-se mulher e lhe acompanha a mudança, cada cirurgia a levá-lo
aos poucos até à morte. Gerda fica-nos na memória pela constância da
doçura, pela devoção a um amor, pelo bom carácter; retemos Fassbender pelo
oposto. Em “12 anos escravo”, é um fazendeiro racista e asqueroso, o terror dos
escravos. Que maltrata em pormenor a sua escrava favorita. Nutre por ela um
ódio tão potente e destruidor como o amor que lhe irrompe em desejos dela e que
só a vontade recusa, o corpo sossobrando no desejo que o atormenta. Tal
constatação enfurece-o, leva-o à mesquinhez de ferir e fazer mal. Sem descanso,
o insuportável fazendeiro vinga-se de si mesmo no corpo da escrava.
E
agora, “The light between oceans” (A luz entre oceanos) junta os dois pela mão
de Derek Cianfrance, um realizador americano, célebre por ter realizado Blue
Valentine filme aclamado, onde não houve ensaio de cenas e que foi filmado
quase sem repetição de takes. É um bom e muito humano realizador.
Nesta fita passada na Austrália, Vikander é Isabel
Graysmark, uma garota casadoira que conhece um ex-soldado da primeira guerra,
disposto a trabalhar num farol longe das gentes. A fotografia é de excepção e
as cores são pálidas, sem o bric à brac desbragado da intensidade óptica e a criar
ambiente a uma história de amor romântica e delicada. Os dois intérpretes casam
e vivem imersos em ternura apaixonada, dedicados um a outro. São felizes. Mas o
sonho de ter filhos vai morrendo, primeiro um aborto, depois outro. Ela,
inconsolável, junto às dua cruzes açoitadas de vento, o desgosto a engolir-lhe
a vontade de viver, a sanidade mental sucumbindo de novo e em força redobrada.
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