Desta vez não houve
grandes surpresas na cerimónia de entrega dos óscares. Mas houve um memorável
engano. Contudo, creio que foi ano de boa safra, há reconhecida qualidade na
selecção dos candidatos. Como tanta vez, o filme mais publicitado ganhou
menos estatuetas do que aquelas a que concorria; La la Land é
um dos filmes que já vi e o realizador – o melhor deste ano - cometeu a proeza
de pôr dois bons actores a cantar e dançar (Emma Stone, melhor actriz
principal) como se pertençam ao meio. Mesmo para quem não aprecie o género,
desenrola uma história com interesse e interpretações de talento; o que mais
apreciei foi a forma verosímil como o filme evolui. E o que saliento na série
de fitas que aí estão prontas ao entretenimento, é a actualidade de temas e a
novidade na abordagem. Porque, na sua maioria, são
questões quotidianas e tão carregadas de drama que nos prendem ao
écran (Manchester by the sea). Quão longe estamos dos finais felizes. The
end já não remata em felicidade, embora ainda possa acontecer. A
harmonia que antes fechava os filmes, agora surge a
meio e sufoca antes do desfecho (La la Land). Ou nem surge. Beiram a
realidade, dilatam-na, empolam conflitos e pequenas rasteiras. E terminam
iguais a cada um de nós, ainda sem fecho, carregando fardos uns mais
voluntários que outros. É como se a fábrica de ilusões, o real em
sobredosagem, tenha perdido a lisura ingénua com que as histórias escorregavam
écran fora. Agora são ásperas, raspam na pele (Fences). Ainda não vi Moonlight,
o filme vencedor. Mas hei-de. Viola Davis mereceu bem a estatueta de melhor
actriz secundária com o desempenho em “Fences”, uma mulher-pilar, igual a
tantas que existem.
Mirei
os adereços e actores na passadeira vermelha. Gente bem vestida e penteada. Em
pose. E eu sei, tenho preferência por Alicia Vikander, mas foi das poucas
mulheres que não deitou a perna fora da abertura do vestido. E fica tão mais
bonita e natural. Os decotes até à cintura e as aberturas de saia até ao
quadril fogem à sua natureza e estética originárias. Sem puritanismos oblongos,
deviam ter outro nome.
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