terça-feira, 30 de maio de 2017

Lavando Pincéis

Andar de bicicleta sabe-me bem. E ando pouco, qualquer nada me compromete os pedais: o frio, o vento, o calor em demasia, a pobreza das minhas forças nas subidas íngremes. Enfim, com tamanha esquisitice, é claro que estreito a prática. Nadar é outro prazer. E, ainda que não sejam comparáveis entre si, assemelho-os.  Aprecio o silvo da roda da frente no alcatrão de mistura com cheiros campestres que evolam, meninos que o sol levanta da cama. E esta sensação de surpreender o dia ainda em pijama e a bocejar, lembra-me o deslizar em água tépida que nos faz pertença do elemento aquoso: liberdades adventícias que venero sem templo, mas com rotunda pompa interna. E, porém. A satisfação que nelas o corpo pede, não depende em exclusivo de mim e, quem sabe por isso, seja maior a paixoneta. Se a bicicleta tem as suas leis, nadar exige-me inscrição em piscina, respeito horário e outras normas. Portanto, apesar do bento regaço da Rainha, nem tudo são rosas.
De acesso menos comedido há os livros, os filmes, algumas músicas. E a leitura e escrita bloguística. Que é sobre a blogosfera que hoje pesponto. Descobri os blogues casualmente, há um ror de tempo. E é verdade, dão a ilusão de conversa: há alguém do outro lado, não necessariamente em simultâneo, alguém que existe de facto e é assim como uma presença-ausência que está não estando. E o inverso. Sem os incómodos e interrogações que um eu além do nosso suscita, estou penteada, tenho uma roupa decente. Saltito de um blogue a outro e  posso acumular actividades sem ser chamada de mal educada. Posso comer, beber, cantar baixinho, assobiar, etc. Blogar transfere o interesse da mente para a ponta dos dedos. É, digamos, um meio cómodo para quem não quer chatices de gente à volta e deseja no fundo estar sozinho.   São os tempos modernos, a companhia virtual possível. Pronto, na verdade ainda não descobri se há companhia. Mas há alguma coisa. E, para quem não tem amigos ou os tem longe demais, ajuda, ensina, diverte, entristece. Mas não muito a sério.  Neste mar de palavras e opiniões escritas há, por vezes, diferendos.
Dizem-me que existem muitos mais motivos para frequentar blogues e escrever sobre qualquer tema numa espécie de intercâmbio com quem se desconhece. Pois existem. Mas só estou a falar sobre. Não tenho por objectivo esgotar o assunto. O essencial parece-me ser um certo desejo de não matar o tempo sozinho, embora seja também isso que acontece.
Sou má bloguer, descreio um bocadinho no modelo. Mas nunca esse pé atrás me fez desrespeitar quem está do outro lado. Se entro na casa de alguém, sou visita; portanto, posso até brincar desajeitada, sair de fininho e para sempre, mas não pretendo magoar.  Em cada “casa” apenas sei do exíguo de palavras mais belas ou diferentes das minhas, com outros saberes e plurais nuances. Porém, não os invejo. Aquilo a que chamo por vezes “inveja boa”, é antes o meu bater palmas, clap, clap, clap, por existir quem domine tal arte, sem pretender escrever como eles (seria incapaz, ninguém escreve como outra pessoa). Uns de nós – poucos – são escritores. Outros, como eu, são escrevinhadores. Sou outro eu, e é com este eu que sou que escrevinho. Nem poderia ser de outra maneira.

E não tem isto mistério .

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